SITUAÇÃO DE
APRENDIZAGEM 5
OS
CIRCUITOS DA PRODUÇÃO (I):
O ESPAÇO
INDUSTRIAL
Produção do
espaço, sistemas técnicos e divisão territorial do trabalho.
(Resumo)
Como a
produção do espaço resulta do trabalho social que se funda no sistema técnico
imperante em cada fase da história, o conjunto das tarefas executadas pela
sociedade reflete a correlação entre espaço produzido e as técnicas disponíveis
em determinada época, também chamada de ciclo. O Brasil nasceu na região do
nordeste atual, do litoral (com a cana) ao interior ou o amplo sertão
nordestino, com a pecuária. Neste, sucederam do séc. XVII ao XXI vários
sistemas técnicos caracterizantes da pecuária, cotonicultura, extrativismo,
agroindústria e turismo. Cada um com suas especificidades de trabalho.
Tomamos,
como referência territorial, uma parte de uma das unidades
político-adiministrativas, o estado do Ceará no Nordeste Oriental, cujo
trabalho sempre esteve ligado, direta ou indiretamente, à ordem internacional,
quer da metrópole (Portugal) quer de outros mercados.
Palavras-chave:
sistemas técnicos, pecuária, atividades extrativas, agro-indústria e turismo.
O espaço,
como produto do trabalho social, estabelece a condição de continuidade da
sociedade, pois cada nova geração sobrevive utilizando-se dos objetos do
passado, superpondo-lhes ou acrescentando-lhes outras criações. O geógrafo
Allen Scott (1988) diz que "sob as pressões da acumulação, o mundo social
está continuamente sendo transformado e retransformado".
Com o
tempo, o espaço se complexifica e, com as novas condições de comunicabilidade
entre os grupos sociais, o espaço ultrapassa o local, tornando-se universal.
As técnicas
de uma época estão no espaço produzido. O tempo está, assim, no espaço. Neste,
o tempo se denuncia pela presença de diferentes modos de produção. Daí Santos
(1980, p.163) dizer que "cada vez que o uso social do tempo muda, a
organização do espaço muda igualmente. De um estágio da produção a um outro, de
um comando do tempo a um outro, de uma organização do espaço a uma outra, o
homem está cada dia e permanentemente escrevendo sua História, que é ao mesmo
tempo a história do trabalho produtivo e a história do espaço."
No capitalismo, essas exigências de fazer e refazer
formas assumem um caráter cíclico. Harvey (citado por Soja, 1993) sintetizou
esse caráter do sistema: "as contradições internas do capitalismo
expressam-se através da formação e re-formação irrequietas das paisagens
geográficas. É de acordo com essa música que a geografia histórica do
capitalismo tem que dançar, ininterruptamente"
Essa
afirmação de David Harvey nos leva ao tema dos ciclos, debatidos e teorizados
por pensadores de diferentes posturas ideológicas 2, como a teoria dos ciclos
longos ou das ondas de Kondratieff.
Nesse corpo
teórico, a análise ultrapassa os limites da economia, porquanto vê o sistema em
sua totalidade, incluindo "componentes tecnológicos e sociais em interação
com o subsistema econômico (Perez) ou, como nos diz o economista brasileiro
Ignácio Rangel: "os ciclos econômicos não são apenas fatos econômicos. São
fatos sociais, no mais alto sentido dessa expressão" (Folha de São Paulo,
04/08/88). Se são fatos sociais, exprimem-se nas feições da "segunda
natureza".
Esses
ciclos estão relacionados com as mudanças tecno-econômicas e sócio-institucionais.
À medida que elas apresentam uma sintonia há uma tendência de refazer-se da
crise e o sistema toma impulso, fase em que se propõe chamar de fase
"A". Quando o sistema capitalismo entra em crise, com o desajuste dos
dois subsistemas (tecno-econômico e sócio-institucional), entra na depressão ou
fase "B".
Desde o
século XVIII que, com o controle e a condensação do conhecimento tecnológico
transformado em técnica, o capitalismo reedifica-se e solidifica-se, embora
dentro das contradições que lhe são inerentes. Os grandes períodos, grandes
ciclos ou ondas longas, de duração entre 50 e 60 anos, são marcados por
determinados conjuntos de descobertas, de inovações conjugadas que estabelecem
uma nova forma de produção e de consumo, possibilitando uma outra dinâmica à
vida global da sociedade, afeiçoando-a a um outro paradigma. Dessa maneira,
mudam-se as funções, ressurgem formas novas para melhor atender a reanimação
dos fluxos de que resulta a produção de um novo espaço, o espaço da modernidade
de então. É por isso que podemos falar do espaço de uma determinada época, de
novas funções das formas ressurgentes, de "rugosidades"3, de
reestruturação do sistema da renovação do espaço geográfico e de inovação das
modalidades e das formas de relações de trabalho.
Na
compreensão do economista europeu Joseph Schumpeter (1883-1950), essa fluidez
do sistema em, periodicamente, apresentar rupturas e posterior ajustamento
deve-se à sua dinâmica basear-se na vaga contínua de destruição criativa. Essa
ideia se fundamenta na ação dos empresários inovadores que, diante da crise,
assimilam a nova ordem técnica e adotam métodos capazes de produzir a custo
menor. A base do contexto capitalista está na "abertura de novos mercados,
externos ou internos, e o progresso de organização desde o artesanato até a
indústria que, incessantemente, revoluciona a estrutura econômica, destruindo
incessantemente a antiga e incessantemente criando uma nova. Este processo de
destruição criativa é o fato essencial do capitalismo" (Schumpeter,1946,
p.103-4).
Para Soja
(1993), "a reestruturação, em seu sentido mais amplo, transmite a noção de
uma ruptura nas tendências seculares, e de uma mudança em direção a uma ordem e
uma configuração significativamente diferentes da vida social, econômica e
política. Evoca, pois, uma combinação sequencial de desmoronamento e
reconstrução, de desconstrução e tentativa de reconstituição..." (p. 193).
O espaço é a expressão mais significante dessa mudança. Nesse aspecto, a cidade
é o lugar de maior demonstração do espaço reconstruído e criador de extensores
capazes de vincular diferentes pontos, proporcionando a abertura de novos
mercados que oferecem meios para a nova ordem que se constrói. Dela partem as
ordens, as informações e as comunicações que definem as modalidades de uso dos
territórios, da organização da produção e de forma de existência do homem.
Embora esse
norteamento teórico esteja mais intimamente relacionado ao conjunto global do
sistema capitalista, essa reflexão nos leva a compreender porque subespaços
também passam por ciclos. Isso ocorre, especialmente, quando notamos a inserção
econômica e produtiva desses subespaços. Isto se faz quando esses pedaços de
espaço recebem ordens externas, como sempre tem sido o caso do nordeste
brasileiro.
O outro
momento foi marcado pela Revolução de 1930, com Getúlio Vargas, que operou uma
mudança decisiva no plano da política interna, afastando do poder do estado
oligarquias tradicionais que representavam os interesses agrários-comerciais.
Getúlio Vargas adotou uma política industrializante, a substituição de
mão-de-obra imigrante pela nacional. Essa mão-de-obra era formada no Rio de
Janeiro e São Paulo em função do êxodo rural (decadência cafeeira) e movimentos
migratórios de nordestinos. Vargas investiu forte na criação da infraestrutura
industrial: indústria de base e energia. Destacando-se a criação de:
* Conselho
Nacional do Petróleo (1938)
* Companhia
Siderúrgica Nacional (1941)
* Companhia
Vale do Rio Doce (1943)
* Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (1945)
Foram
fatores que contribuíram para o desenvolvimento industrial a partir de 1930:
Em 1946
teve início a produção de aço da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Volta
Redonda, que abriu perspectivas para o desenvolvimento industrial do pais, já
que o aço constitui a base ou a "matriz" para vários ramos ou tipos
de indústria. [2]
Em 1950
alguns problemas de grande importância dificultaram o desenvolvimento
industrial:
* falta de
energia elétrica;
* baixa
produção de petróleo;
* rede de
transporte e comunicação deficientes.
Para tentar
sanar os dois primeiros problemas, o presidente Getúlio Vargas inaugurou a
Companhia Hidrelétrica do São Francisco, Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso e
criou a Petrobras.
Em 1956,
com a chegada de Juscelino Kubitschek ao poder, o Brasil entra na chamada fase
desenvolvimentista. Juscelino estabeleceu um Plano de Metas que tinha com
objetivo "crescer cinqüenta anos em cinco ". Desenvolver a indústria
de base, investir na construção de estradas e de hidrelétricas e fazer crescer
a extração de petróleo, tudo com o objetivo de arrancar o Brasil de seu
subdesenvolvimento e transformá-lo num país industrializado. Os industriais
brasileiros continuavam investindo nos setores tradicionais (tecido, móveis,
alimentos, roupas e construção civil), e as multinacionais entravam no Brasil
pela primeira vez, para a produção de bens de consumo. O plano teve tanto
conseqüências positivas quanto negativas para o país.
Por um
lado, deu-se a modernização da indústria; por outro, o forte endividamento
internacional por causa dos empréstimos, que fizeram possível a realização do
plano e a dependência tecnológica, sem falar na inflação que assolou o país.
Houve também um grande êxodo rural, porque, à medida em que os centros urbanos
se desenvolviam, as características da vida rural não progrediam e reformas não
eram implementadas.
O Plano de
Metas dividiu-se em 31 metas que privilegiavam 5 setores da economia
brasileira: energia, transporte, indústrias de base, alimentação e educação.
Após 1964,
os governos militares, retomaram e aceleraram o crescimento econômico e
industrial brasileiro. O Estado assumiu a função de órgão supervisor das
relações econômicas. O desenvolvimento industrial pós 64 foi significativo.
Ocorreu uma
maior diversificação da produção industrial. O Estado assumiu certos
empreendimentos como: produção de energia elétrica, do aço, indústria
petroquímica, abertura de rodovias e outros, assegurando para a iniciativa
privada as condições de expansão ou crescimento de seus negócios.
Houve
grande expansão da indústria de bens de consumo não-duráveis e duráveis com a
produção inclusive de artigos sofisticados.
Aumentou,
entre 1960 e 1980, em números significativos a produção de aço, ferro-gusa,
laminados, cimento, petróleo.
Para
sustentar o crescimento industrial, houve o aumento da capacidade aquisitiva da
classe média alta, através de financiamento de consumo. Foi estimulada, também,
a exportação de produtos manufaturados através de incentivos governamentais. Em
1979, pela 1ª vez, as exportações de produtos industrializados e
semi-industrializados superaram as exportações de bens primários (produtos da
agricultura, minérios, matérias-primas).
A década
perdida, é uma referência à estagnação econômica vivida pela América Latina
durante a década de 80, quando se verificou uma forte retração da produção
industrial e um menor crescimento da economia como um todo. Para a maioria dos
países, a década de 80 é sinônimo de crises econômicas, volatilidade de
mercados, problemas de solvência externa e baixo crescimento do PIB.
No Brasil,
a década de 80 trouxe o final do ciclo de expansão vivido nos anos 70 (milagre
econômico).
Chama-se de
globalização, ou mundialização, o crescimento da interdependência de
todos os
povos e países da superfície terrestre.
O elemento
básico desse sistema de mundo é o processo de globalização da economia, que
atinge todo um conjunto de fatores econômicos: a produção, as patentes, as
finanças, o comércio e a publicidade. Numa economia mundial integrada, o
processo econômico das grandes empresas é pensado em escala global.
- Efeitos da globalização:
- comunicação
mundial integrada;
- aumento
do desemprego;
- a
concorrência dos novos fatores econômicos.
O Neoliberalismo é a intervenção do governo de
maneira indireta na economia, uma vez que não havia a possibilidade de uma
disciplina no mercado quando este flutuava de acordo com a lei da oferta e da
procura.