TEXTO DE APOIO PARA 3ªs SERIES
SITUAÇãO DE APRENDIZAGEM 1 DO VOLUME 01
A
regionalização do espaço mundial.
A regionalização do espaço mundial é resultado do processo de Divisão
Territorial do Trabalho (DIT) e se modifica com ela, pois este processo se
caracteriza por uma reorganização espacial (geográfica) que viabiliza um novo
padrão de acumulação capitalista. A divisão social do trabalho tem origem há
aproximadamente 5.500 anos, com o aldeamento; essa divisão social foi se
‘aperfeiçoando’ até a ditar às mais diferentes regiões do mundo o que elas
devem produzir e/ou consumir. Isso se deu, principalmente, nos dias atuais,
porque a lógica da Divisão Territorial do Trabalho é a acumulação de capital;
porém as pessoas não acumularam igualmente, originando, assim, as desigualdades
que marcam o mundo contemporâneo.
Essa desigualdade combinada se reproduz por meios desiguais como a
transferência de processos de trabalho mais banais para os países
subdesenvolvidos e retendo para os desenvolvidos os processos de trabalho mais
sofisticados, logo, o salário é menor nos países periféricos, acentuado ainda
com a presença de preços de monopólio que são praticados pelas empresas
altamente concentradas. Esses processos segregam o espaço mundial, criando e
acentuando esse processo de divisão territorial do planeta, criando países que
produzem pouco, a baixos salários para a população, enquanto outros tem uma
estrutura de alta tecnologia, velocidade, etc.
O mapa mundi sempre sofreu mudanças na sua configuração, mas esse fato
sofreu forte acentuação na última década do século XX, principalmente entre os
anos 1989 e 1991, devido a mudanças políticas e ideológicas. Hoje as
dificuldades para se regionalizar o espaço mundial são enormes.
Antes da Segunda Guerra Mundial havia uma ordem mundial multipolar,
representada pelo Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos, Japão e
Rússia. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, especialmente, a Segunda
Guerra Mundial foram momentos de desequilíbrio nessa ordem multipolar. As
potências europeias e o Japão saíram arrasadas da disputa. Então EUA e União
Soviética passaram a dividir o mundo entre si; o mundo ingressou, então, numa
ordem bipolar, que durou até 1991.
Hoje a dúvida é: qual a nova ordem mundial?
Seria monopolar, com os EUA
‘dominando’ o mundo, ou multipolar, destacando-se, principalmente, o Japão,
EUA, Europa, China?
Acredito que os EUA vêm dominando o cenário mundial,
ditando as “regras do jogo”, sendo auto-suficientes (e talvez acreditando
demasiadamente nisso, o que pode trazer alguns problemas, tais como os
atentados de 11 de Setembro de 2001). Atualmente os EUA vêm passando por uma
séria crise; porém o seu papel de país dominante (e representante máximo do
capitalismo) é ressaltado pelo fato de que vários setores e países do mundo
sofrem os efeitos dessa crise.
A regionalização do espaço mundial e a nova ordem mundial são assuntos
complexos, tendo como exemplo as várias interpretações decorrentes dos fatos
que ocorrem atualmente. Surgem dessa situação os conflitos que estouram em
várias partes do mundo; a fragilidade cada vez maior das economias dos países
subdesenvolvidos; se não o enfraquecimento, pelo menos o desvio de função do
Estado-Nação; valorização da problemática ambiental; etc. Concluindo, vemos que
muitas são as ‘realidades’, muitas são as diferenças. Uma regionalização que
retratasse a realidade seria aquela que não considerasse apenas as questões
econômicas, mas também a diversidade cultural, as individualidades de cada
nação.
A
Nova Ordem Mundial
N Nos últimos anos, principalmente
de 1989 a 1991, o mapa-múndi político sofreu transformações radicais. Novos
estados-nações (países) surgiram e outros desapareceram.
Como exemplo
disso, podemos citar a antiga Alemanha Oriental, hoje uma província da Alemanha
reunificada. Ou antiga Tchecoslováquia, hoje em dois novos estados-nações: a
República Tcheca e a Eslováquia. Contudo, as mudanças mais surpreendentes
aconteceram na Iugoslávia e na União Soviética. A Iugoslávia, além de ter sido
dividida em cinco novos países(Croácia, Eslovênia, Bósnia, Macedônia e
Iugoslávia), conheceu uma sangrenta guerra civil pela partilha da
Bósnia-Herzegóvina. A União Soviética, por sua vez, viu-se obrigada a
fragmentar-se em 15 nações independentes.
Do ponto de vista geopolítico, é possível comparar esse período a
um outro do nosso século, quando também aconteceram mudanças profundas no
mapa-múndi, por ocasião da segunda guerra mundial. Nesses dois
momentos ocorreram não apenas mudanças geopolíticas, mas também uma crise de
uma ORDEM MUNDIAL e a emergência de uma outra.
Antes da segunda
guerra mundial havia uma ordem multipolar, ou seja, com base em vários pólos ou
centros de poder que disputavam a hegemonia internacional: Inglaterra,
ex-grande e exclusiva potência mundial no século XIX, em decadência hegemônica;
a França e em especial a Alemanha, grandes
concorrentes no continente europeu; os EUA, grande potência da
América; o Japão, que se lançava numa aventura imperialista no
leste e sudeste asiático; e por fim a imensa Rússia, fortemente militarizada. O
final da grande guerra trouxe um novo cenário: as potências europeias estavam
arrasadas e consequentemente seus impérios na Ásia e África; o Japão,
igualmente arrasado, perdeu as áreas que havia conquistado no extremo
oriente(Coréia, Manchúria, partes da Sibéria, etc.). Duas novas potências
mundiais – EUA e União Soviética – lotearam o mundo entre si. Foi a época da
BIPOLARIDADE, a nova ordem mundial, que durou cerca de 45 anos, desde o final
da segunda guerra até meados de 1991.
O mundo bipolar
foi marcado pela eterna disputa entre capitalismo e socialismo, tendo os EUA e
a União Soviética de cada lado, respectivamente. Os EUA, líderes
político-econômicos do mundo capitalista . A União Soviética, a guardiã e o
exemplo a ser seguido no mundo socialista.
Esse Status que
começou a ser mudado com a ascensão do Japão e da Europa Ocidental, que
passaram a disputar a supremacia internacional com os EUA, e ao esgotamento do
modelo soviético.
A Regionalização do Espaço Mundial
Existem inúmeras
divisões do espaço geográfico mundial, mas podemos separar duas formas de
regionalização mais conhecidas e utilizadas. Uma é a setorização da Terra
por critérios naturais, em especial pelos continentes. A outra é a
divisão do espaço mundial por critérios sociais ou político-econômicos:
o Norte(países ricos e industrializados) e o Sul(países pobres ou
subdesenvolvidos).
A primeira
classificação tem como base a geologia, ou seja, o resultado de uma divisão
natural operada ao longo do tempo geológico, que separou os continentes.
A segunda forma
de classificar toma como referência a sociedade. É uma divisão do
espaço com base em elementos político-econômicos. O homem aqui é visto como
agente principal, transformando o seu meio natural.
De forma
simplificada, podemos afirmar que aqueles estudos que têm na Terra(natureza) o
seu referencial, fazem parte da chamada geografia tradicional.
Por outro lado,
também simplificando um pouco, podemos dizer que aqueles estudos que
referenciam-se na sociedade, enquadram-se na chamada geografia crítica.
Trata-se de uma geografia que entende o espaço geográfico como produto da
atividade humana.
Dos Três Mundos à Oposição Norte/Sul
A regionalização
do espaço mundial com base em critérios sociais sempre está ligada ordem
internacional que prevalece num certo momento, ao equilíbrio instável dos países
e os grupos de países, à disputa (ou cooperação) entre as grandes potências
mundiais. Após 1945 o mundo dividiu-se em três "mundos" ou conjuntos
de países: o primeiro mundo(países capitalistas desenvolvidos);
o segundo mundo (países socialistas ou de economia
planificada);
e o terceiro mundo (áreas periféricas ou
subdesenvolvidas, com frequência marcadas por disputas entre capitalismo e
socialismo).
Para entendermos
a regionalização atual, dos anos 90 e início do século XXI, temos que estudar
a crise do segundo mundo e como essa crise vem reforçando a
oposição entre o Norte e o Sul.
Os Sistemas Socioeconômicos
Capitalismo e
socialismo são dois tipos de sistemas bastante diferentes entre si. Podemos
dizer que o capitalismo caracteriza-se por apresentar uma economia de
mercado e uma sociedade de classes. O socialismo, por sua
vez, basicamente constitui-se por uma economia planificada e
uma sociedade teoricamente sem classes.
A sociedade
capitalista é dividida basicamente em duas classes sociais: a burguesia,
composta pelos capitalistas, donos dos meios de produção (fábricas, bancos,
fazendas, etc.), e o proletariado(urbano e rural), que vive de
salários, trabalhando para os donos do capital. No entanto, existem indivíduos
que não se enquadram em nenhuma destas classes, como por exemplo os profissionais
liberais (advogados com escritório próprio, médicos c/consultório
particular, etc.).
Na economia
planificada, o elemento principal do funcionamento do sistema econômico
(produção, consumo, investimentos, etc.) é o plano e não o
mercado. Nesse sistema os meios de produção são públicos ou estatais,
quase não existindo empresas privadas.
Teoricamente, não deveria haver estratificação social
nesse sistema, mas o que se verificou na prática foi o surgimento de uma elite
burocrática que dirigia o sistema produtivo, constituindo-se em
nova classe dominante.
O Reforço das disparidades entre o
Norte e o Sul
Com a crise do
mundo socialista, aumenta a oposição entre o Norte e o Sul. Isso, porque deixa
de haver o conflito LESTE/OESTE, ou seja, entre o socialismo real o capitalismo.
As duas
superpotências das últimas décadas tinham um poderio avassalador e nenhum
conflito importante no plano mundial deixava de ter a participação direta ou
indireta delas.
Nessa época, a
oposição entre o Norte rico e o Sul pobre nunca transparecia claramente, porque
estava sempre abafada pelo conflito LESTE/OESTE.
O segundo mundo
chegou a abranger cerca de 32% da população mundial no início dos anos 80, mas
hoje ele praticamente não existe mais. Assim, colocando-se os antigos países
socialistas mais pobres ou menos industrializados (China, Mongólia, Camboja,
Vietnã, Cuba, etc.) no Sul subdesenvolvido, e os mais industrializados (Rússia,
Hungria, Polônia, República Tcheca, etc.) no Norte, temos a oposição entre o
Norte desenvolvido, com 23% da população mundial, e o Sul com 71% desse total
demográfico. Esta é a principal oposição mundial dos anos 90.
As Disparidades tendem a aumentar
A oposição entre
o Norte e o Sul tem ainda outro motivo para se acentuar: as desigualdades
internacionais, que vêm aumentando desde os anos 80 e devem se agravar ainda
mais até o início do século XX. O PNB dos ricos sempre tem
aumentado, enquanto os de grande parte dos países pobres têm diminuído,
especialmente na África. De forma resumida, podemos dizer que isso se deve ao
seguinte: enquanto as economias mais avançadas estão atravessando a
chamada Revolução técnico-científica, com substituição de força de
trabalho desqualificada por máquinas, com a expansão da informática, etc., os
países mais pobres só têm duas coisas a oferecer – matérias-primas e mão de
obra barata -, e esses elementos perdem valor a cada dia. Somente os países com
uma força de trabalho qualificada (resultado de um ótimo sistema educacional) e
tecnologia avançada é que possuem condições ideais para o desenvolvimento..
O Subdesenvolvimento
De forma sucinta,
podemos definir o subdesenvolvimento como uma situação econômico-social
caracterizada por dependência econômica e grandes desigualdades
sociais.
Subordinação ou dependência econômica
Todos os países
do Sul ou do terceiro mundo são economicamente dependentes dos países desenvolvidos.
Tal dependência manifesta-se de três maneiras:
I. Endividamento externo – normalmente, todos os países
subdesenvolvidos possuem vultosas dívidas para com grandes empresas financeiras
internacionais.
II. Relações comerciais desfavoráveis – geralmente, os países
subdesenvolvidos exportam produtos primários (não industrializados), como
gêneros agrícolas e minérios. As importações, por sua vez, consistem
basicamente de produtos manufaturados, material bélico e produtos de tecnologia
avançada (aviões, computadores, etc.). Esta relação comercial revela-se
terrivelmente desvantajosa , pois os artigos importados têm valor
agregado bem maior do que os exportados, e ainda se valorizam mais
rapidamente.
III. Forte influência de empresas estrangeiras – nos países
subdesenvolvidos, boa parte das principais empresas industriais, comerciais,
mineradoras e às vezes até agrícolas é de propriedade estrangeira, possuindo a
matriz nos países desenvolvidos. São as chamadas multinacionais. Uma
grande parcela dos lucros dessas empresas é remetida para suas matrizes, o que
provoca descapitalização no terceiro mundo.
Grandes Desigualdades Sociais
Em todos os
países subdesenvolvidos, a diferença entre ricos e pobres é muito mais
acentuada do que nos países desenvolvidos. Por exemplo, na Colômbia, 2,6% da
população possui 40% da renda nacional; no Chile, 2% dos proprietários possuem
50% das terras agrícolas. Dessa forma, a população de baixa renda acaba
sofrendo de sérios problemas de subnutrição, falta de moradias, atendimento
médico-hospitalar inadequado, insuficiência de escolas, etc.
Como Definir a Nova Ordem?
A nova ordem costuma ser definida
como multipolar. Isso quer dizer que existem vários pólos ou centros de poder
no plano mundial. Hoje temos três grandes potências mundiais de poderio
econômico, tecnológico e político-diplomático: EUA, Japão e
a União Europeia. Assim, o século XX começou com uma ordem
multipolar, passou para a bipolaridade e termina com uma nova multipolaridade.
Que diferenças existem entre a multipolaridade deste fim de século e aquela do
início?
A primeira grande
diferença é que no início do século havia somente um agente no cenário
internacional: o Estado Nacional (como, por exemplo, Inglaterra, Alemanha,
etc.) e tudo girava ao redor de suas relações econômicas e político-militares.
Já nos dias hodiernos há um relativo enfraquecimento do estado-nação e um
fortalecimento de outros agentes internacionais – a ONU, em primeiro lugar, e
também as empresas multinacionais e as diversas organizações mundiais
(governamentais e não governamentais) que atuam nas áreas ambiental, econômica,
cultural, técnica, etc.
Em segundo lugar,
no início do século vivia-se uma situação de pré-guerra: as rivalidades entre
potências conduziam inevitavelmente a conflitos bélicos entre si, o que ocorreu
efetivamente de 1914 a 1918 e novamente de 1939 a 1945. Hoje isso é
extremamente improvável de acontecer, pois no lugar de uma disputa acirrada
pela hegemonia mundial, existe uma crescente cooperação , uma interdependência,
inclusive com a criação de mercados regionais ou blocos
econômicos. Dessa forma, as três grandes potências são ao mesmo tempo
rivais e associados, possuem alguns interesses conflitantes e inúmeros outros
em comum.
A ordem mundial era tida como dicotômica ou dualista, ou seja, predominava a
oposição entre o bem e o mal, entre o capitalismo e o socialismo. A nova ordem
é pluralista, ou seja, possui várias frentes de oposição, como RICOS/POBRES; CRISTÃOS/MUÇULMANOS (ISLÂMICOS);
INTERESSES MERCANTIS/CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA, etc.