Textos para 2a. série - 4o. bimestre
Da Situação De Aprendizagem 5
Os conhecimentos sobre o relevo terrestre vêm assistindo a
reinterpretações à luz de novas explicações teóricas que ganharam terreno nas
últimas décadas do século XX. No
caso específico do relevo brasileiro não é diferente. Novas lógicas que ajudam
a compreender seu dinamismo estão presentes não somente no mundo da ciência,
mas também aparecem trabalhadas na Geografia escolar. Além da atualização dos
conhecimentos, as novas interpretações sobre o relevo brasileiro e sua dinâmica
obrigam a uma mudança de postura: perde sentido aquele tipo de saber
sustentado na memorização e avança um conhecimento analítico do processo, que
contribui para que construirmos recursos de observação e análise dos fenômenos
naturais. Isso nos qualifica a refletir sobre as relações entre os diversos
elementos da natureza, assim como sobre as relações do ser humano (das
sociedades) com a natureza.
O nascimento de uma preocupação: a gestão dos recursos naturais
A tectônica de placas e o relevo brasileiro
No
capítulo “Natureza e
riscos ambientais”, no 3º. bimestre, trabalhamos com
as estruturas e formas do planeta
Terra, as diferentes funções dos agentes
internos e externos na formação das condições superficiais do planeta,
o conjunto de explicações sobre a dinâmica da litosfera de modo genérico, tendo
em vista o planeta como um todo. É importante resgatar agora o essencial, para
tratar do caso brasileiro.
Vamos
explorar um acontecimento que ficou marcado na nossa
memória: no dia 22 de abril de 2008, às 21h27, a cidade de São Paulo foi
atingida por um tremor de 5.2° na escala Richter. Um tremor também é conhecido como terremoto. Vocês ouviram
falar dele ou o sentiram? No
Brasil há terremotos? Alguém se lembra de algum tremor ocorrido em nosso
território? Já houve vítimas fatais de terremotos no Brasil?
No Brasil podem ocorrer terremotos leves. O terremoto de 22 de abril de
2008 teve como epicentro um ponto no Oceano Atlântico, a cerca de 215 km de São
Vicente, na Baixada Santista, Estado de São Paulo. O epicentro é a área onde o
terremoto atinge intensidade máxima (a parte interna da litosfera em que se
origina um terremoto é chamada de hipocentro, e a parte externa da litosfera
que recebe a energia máxima originada no hipocentro é justamente o epicentro).
Em 14 de novembro de 2007, outro tremor foi sentido em várias áreas da
cidade de São Paulo, a ponto de alguns edifícios terem sido evacuados. O tremor
foi reflexo de um terremoto ocorrido no Chile poucos minutos antes.
Em 9 de dezembro de 2007, no município de Itacarambi (MG), foi
registrado um tremor de 4,9° na escala Richter e houve, inclusive, uma morte.
Há, também, vários registros de terremotos em Sobral (CE) e em João Câmara
(RN). Todos esses abalos sísmicos têm algo em comum: seus epicentros estão no
próprio local de ocorrência.
Já ocorreram terremotos no mundo que marcaram a vida de alguns povos e
que jamais serão esquecidos. Por exemplo: o terremoto de Lisboa, em 1755, foi
uma das maiores tragédias da época e marcou definitivamente a vida daquela
cidade - praticamente destruiu a cidade e matou 70 mil pessoas; o terremoto
recente que atingiu a China, em 12 de maio de 2008 (província de Sichuan), cujo
número de mortos superou os 70 mil, além dos milhares de desaparecidos. E por que não há registro na memória da
população brasileira dos terremotos que ocorreram em nosso território?
Porque a intensidade dos terremotos e as perdas humanas e materiais não foram
grandes.
Observando a tabela “Entenda os efeitos dos terremotos”, na página 3 do
caderno do aluno, temos instrumentos suficientes para compreender por que os
terremotos no território brasileiro não deixam marcas em nossa memória: porque
eles praticamente não deixam marca nos espaços humanos, visto que o maior
deles alcançou 6,6° na escala Richter e ocorreu em uma região pouco habitada na
época, não ocasionando danos graves. Já os terremotos de Lisboa e da província
de Sichuan atingiram 9,0° e 7,9°, respectivamente.
A força letal de um terremoto não está apenas associada à intensidade
do seu epicentro. No caso do tremor ocorrido na província de Sichuan, além da
intensidade do terremoto, as características daquele espaço humano pesou no
número de vítimas: alta densidade demográfica, precariedade das construções,
condições difíceis de acesso para o socorro das vítimas etc.
A lógica dos tremores pode ser apreendida tendo em conta a localização
dos epicentros e a intensidade dos terremotos. E isso não vai permitir apenas a
explicação dos terremotos, mas também a lógica da formação das estruturas do
relevo brasileiro, assunto principal deste capítulo.
A dinâmica da crosta terrestre e a lógica dos
tremores
Esta etapa pode ser iniciada pela discussão dos terremotos. Vamos ler o
texto "A instabilidade da crosta terrestre", apresentado na página 5
do caderno do aluno, observando o “Mapa das placas tectônicas” na página 7.
No terremoto que
aconteceu em novembro de 2007, o epicentro do terremoto em foi no Chile e
pode-se notar que esse ponto se encontra na área de contato da placa
Sul-americana com a placa de Nazca; já o que aconteceu em dezembro de 2007, em
Itacarambi (MG), o epicentro foi no próprio local, e notamos que se deu quase
no meio da placa Sul-americana. O epicentro do terremoto que aconteceu em
abril de 2008, em São Paulo, foi a 215 km da costa brasileira, no Oceano
Atlântico. Assim, temos: um terremoto em área de contato de
placa e dois terremotos no interior da placa Sul-americana, em pontos afastados
de suas bordas.
"Tremor" tem o mesmo significado de terremoto ou abalo
sísmico. O que treme, em um terremoto,
é a placa tectônica. Na verdade, partes dela, que por vezes são bem
pequenas. Os tremores são
produzidos pela atividade interna do planeta, quando a energia resultante dos
esforços das placas para se movimentar é liberada repentinamente. Observe o
quadro “Placas tectônicas e terremotos”, na página 11 do caderno do aluno.
Para ajudar a organizar o pensamento, uma questão pode ser colocada:
Como as placas
se movimentam, podem acontecer três situações nas áreas de contato. Quais são
elas?
1. as placas se encontrarem e se chocarem
(movimento convergente);
2. as placas se afastarem (divergente);
3. as placas não se encontrarem nem se
afastarem, logo não provocam destruição, porque fazem movimentos paralelos
(transcorrente e/ou conservativo).
Encontrando ou se afastando, a atividade interna da Terra chega mais
facilmente à superfície nas áreas de contato de placas do que nos seus centros,
em virtude da descontinuidade existente. O que pode ser acrescentado agora à
análise dos epicentros dos três terremotos que estão sendo utilizados como
exemplos? Que há um terremoto nas áreas de encontro de placas e dois terremotos
intraplacas, em pontos em que há falhas ou fragilidades na placa. Nesse último
caso, vale lembrar que a ocorrência de tremores pode ser facilitada ou
dificultada pela espessura da placa. As regiões em que ela é mais fina são as
mais sensíveis. É ali que ela pode se romper mais facilmente, diante das
pressões do interior da Terra.
O que interessa deixar claro são os diferentes exemplos de terremotos
apresentados. Por exemplo: os tremores nas áreas de destruição de placas (áreas
de choque) tendem a ser mais fortes, mais frequentes, logo, causam mais dano. Mas será que o movimento das placas e a
presença de falhas e fissuras só servem para explicar os eventos sísmicos
(terremotos e vulcanismo)? Ou terão também importância no momento em que a
questão abordada é o relevo?
Uma biografia ("abiografia") da
placa Sul-americana e suas repercussões no relevo brasileiro
As placas tectônicas são segmentos da crosta terrestre ou litosfera. A
litosfera, em conjunção com a hidrosfera e a atmosfera, formam os domínios naturais. Podemos nos
referir aos domínios naturais como o mundo inorgânico ou o meio abiótico (sem
vida). Por outro lado, quando no meio inorgânico a vida floresce, constitui-se
o meio biótico. É importante lembrar que uma placa tectônica é um elemento do
mundo abiótico. Ela não tem vida. Não tem vida, mas tem dinamismo, se
transforma, tem uma trajetória, pois se movimenta no magma e no tempo. Tem uma
biografia? Não, pois biografia somente
os seres vivos têm. Por isso, só podemos traçar uma "abiografia" da
placa tectônica Sul-americana.
Como e quanto a
dinâmica da placa Sul-americana interferiu na estruturação do relevo atual do
território brasileiro?
Há aproximadamente 225 milhões de anos, a Pangeia começou a se
fragmentar e, há cerca de 135 milhões de anos, um grande bloco no sul do
planeta (Gondwana), que já havia se desprendido da Pangeia, começou a se romper.
No seu interior iniciou-se a abertura do Oceano Atlântico, separando o que
viriam a ser os continentes da América do Sul e da África. Trata-se da placa
Sul-americana, antes colada à placa Africana, que começou a se deslocar para o
oeste. O quadro “Placa Sul-americana: movimentos tectônicos” procura sintetizar
essa dinâmica.
Alguns pontos auxiliam na compreensão da relação entre a dinâmica da
placa Sul-americana e o relevo brasileiro.
Quando iniciou a separação das placas Africana e Sul-americana (200-135
milhões de anos atrás), a velocidade da
movimentação, em direção ao oeste, era de 1,2 cm ao ano e a costa leste da
América do Sul ficou sendo área de borda de placa; logo, suscetível aos efeitos
das atividades internas, abaixo da crosta terrestre. Algumas alterações no
relevo da costa leste do Brasil podem ter começado nesse processo.
Na divergência entre as placas Africana e Sul-americana, houve intrusão
de material magmático, que foi se solidificando e, na medida em que as placas
se afastavam, formava-se o fundo do Oceano Atlântico, com parte vinculada à
placa Sul-americana e parte à Africana. As placas aumentaram, com o acréscimo
de assoalho oceânico e/ou crosta oceânica, criando uma nova extensão de 4 100
km.
Ao mesmo tempo, movimentando-se em direção ao oeste, a placa
Sul-americana se encontrou com a placa de Nazca, que, por ser mais densa,
entrou por baixo da placa Sul-americana, soerguendo (levantando) sua borda e
dando origem à Cordilheira dos Andes. Nesse processo de mergulho, a placa de
Nazca está submergindo, onde se funde com o magma.
Há interpretações que buscam explicar que, quando a Cordilheira dos
Andes se originou (há cerca de 60 milhões de anos), com a elevação da borda
oeste da placa Sul-americana, teria havido uma repercussão em todo o conjunto
da placa. Trata-se de uma repercussão desigual, visto que algumas áreas de
rochas menos resistentes foram mais levantadas que outras, constituídas por
rochas mais resistentes. Foi nesse momento - essa é a hipótese - que teriam
ocorrido os movimentos que deram origem às escarpas das Serras do Mar e da
Mantiqueira. No entanto, pesquisas têm mostrado indícios de que o relevo da
costa leste do Brasil não teria uma relação tão imediata com o soerguimento dos
Andes.
A dinâmica (ou
"abiografia") da placa Sul-americana deixou quais heranças na atual
configuração do relevo brasileiro?
No relevo da
América do Sul, deixou a portentosa Cordilheira dos Andes, em sua borda
oeste, e, no território brasileiro, deixou alterações gerais que variaram
segundo a condição da geologia dos terrenos. Um fato notável para a região
Sudeste, especificamente para o Estado de São Paulo, são as falhas geológicas
expressas nas escarpas da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. As alterações
são difíceis de ser demonstradas, e mais difícil ainda é distingui-las das
formas de relevo anteriores a esse momento de orogenia (processo de formação de
montanhas, que se dá a partir de vários fenômenos geológicos) na borda oeste da
placa. Após esses eventos, nenhum tectonismo importante atingiu a placa
Sul-americana; logo, o território brasileiro e suas formas de relevo atuais
têm no processo erosivo a sua principal força dinâmica.
A resposta anterior expressa um campo com algumas incertezas sobre o
desencadeamento das repercussões no relevo brasileiro em razão dos movimentos
tectônicos da placa Sul-americana, mas seguramente
o relevo brasileiro contém heranças do movimento dessa placa. Entretanto,
algo ainda precisa ser acrescentado:
Toda a movimentação da placa e os abalos sofridos que repercutiram no
relevo se deram sobre a superfície anterior da placa, antes de sua separação de
Gondwana, que constituía a placa, e, mais diretamente para nosso interesse, o
território brasileiro. Esse material estrutural pode resistir mais ou menos aos
movimentos, por isso é preciso conhecer essa estrutura geológica.
O Oceano
Atlântico tem 200 milhões de anos e, por consequência, o assoalho oceânico,
resultado de uma parte nova da placa Sul-americana e da placa Africana.
Os terrenos vêm
da Pangeia e têm bilhões de anos. Sabe-se isso por meio da datação de rochas
encontradas em velhas cadeias montanhosas, hoje muito erodidas. Logo, a placa
Sul-americana tem um segmento continental muito antigo e um segmento oceânico
novíssimo.
As idades da crosta oceânica e da crosta continental são bastante
contrastantes e indicam um fator-chave da estrutura geológica: o tempo de formação. Esse tempo interfere
na constituição interna da estrutura. No interior do próprio continente
sul-americano, há terrenos com idades bem diferentes, o que também acontece se
reduzirmos a observação ao Brasil. O mapa “Brasil: grandes estruturas” é uma
representação qualitativa e distingue grandes extensões de terrenos estruturais
do Brasil. A distinção é feita por cores. E por isso se distingue rapidamente
estruturas diversas de terrenos em termos geológicos.
O quadro “Simplificação operacional da legenda do mapa Brasil: grandes
estruturas”, na página 16 do caderno do aluno simplifica as informações
cartográficas. O mapa traz informações detalhadas, mas o quadro traz uma
classificação mais compacta para auxiliar no seu raciocínio.
Abaixo, o quadro
explica três termos que aparece no quadro anterior: áreas cratônicas,
dobramentos antigos e bacias sedimentares.
Situação De Aprendizagem 6
As formas de relevo brasileiro e as funções das classificações
As formas do relevo brasileiro expressam tempos da natureza muito
distintos. Podemos observar que eventos de bilhões de anos atrás combinados com
outros bem mais recentes deixaram suas marcas. Descrever as grandes formas de
relevo brasileiro não é tarefa simples em função da enorme escala territorial
de nosso país. No entanto, para enxergar a organização do relevo é preciso
também organizar o olhar. Essa é a função das diversas classificações do relevo
brasileiro. Elas organizam nosso olhar, cada uma a seu modo. E cada uma delas
nos dá acesso a realidades distintas.
As formas de relevo devem ser compreendidas na sua dinâmica, e o mesmo
acontece com as classificações. Elas se alteram mais que as próprias formas de
relevo. O relevo muda, porém bem mais lentamente que o conhecimento humano.
Além de discutir as forças que atuam na constituição do relevo brasileiro,
vamos refletir sobre as próprias formas de classificação e como, por meio de
teorias que reúnem forças estruturantes, formas e medidas, constroem-se olhares
produtivos sobre essa dimensão da natureza, que é o modelado da crosta
terrestre, mais especificamente, o modelado brasileiro.
O relevo não é produto apenas dos movimentos tectônicos, mas de outra
força que atua na superfície terrestre: a erosão.
Alguns termos se referem às formas da superfície terrestre: relevo,
modelado, Geomorfologia, topografia. Certamente, a palavra modelado tem maior correspondência com
a linguagem corrente. A superfície terrestre é modelada por irregularidades.
Por exemplo: a Cordilheira dos Andes, que é um soerguimento da placa Sul-americana,
é uma irregularidade que compõe o modelado da Terra.
- Relevo: forma da Terra,
modelado, que resulta da interação das forças internas (tectônica) e das
forças externas (erosão no sentido amplo);
- Modelado: considerado um
sinônimo informal de relevo, é a forma da Terra ou então a
"epiderme" da Terra;
- Geomorfologia: trata-se de uma das áreas que compõe a Geografia Física, ao lado da
Climatologia, Hidrografia e Biogeografia. Seu objeto de estudo é justamente o
relevo, tanto dos blocos continentais quanto do fundo oceânico. Seus objetivos
são medir, descrever as formas e explicar as origens e a evolução do relevo;
- Topografia: conjunto de
saberes técnicos que contribuem para apreender o espaço segundo a localização
e a medida dos objetos geográficos visíveis (aqui se encontram as estruturas
do relevo e, também, os rios, os objetos construídos pelo ser humano etc.).
Se entre as funções da Geomorfologia está a de medir o relevo, os
conhecimentos de Topografia serão necessários.
Classificações das macroestruturas: modos de apreender e de ver
Ao trabalhar a dinâmica da placa Sul-americana, parte dos estudos sobre
o relevo brasileiro estava sendo realizada. Essa parte diz respeito aos
processos que ocorrem na estrutura da crosta terrestre, revelados pela teoria
da tectônica de placas. Mesmo em se tratando de origem e evolução das formas de
relevo, esses estudos são parciais, porque outro agente igualmente poderoso na
definição das formas da superfície terrestre precisa ser considerado: a erosão.
O que entendemos, quando falamos sobre construção e destruição?
- No encontro das placas tectônicas Sul-americana e de Nazca, fala-se em
destruição da borda da placa,
mas também se pode falar em construção de
relevo, mais propriamente da Cordilheira dos Andes;
- Na área de divergência das placas Sul-americana e Africana, há
afloramento de magma para a superfície, que, ao se solidificar, tem efeito construtivo: faz crescer as duas
placas, ampliando a crosta oceânica, e origina cadeias montanhosas no fundo do
Oceano Atlântico, como a Dorsal Mesoatlântica. Neste caso, constrói-se placa e constrói-se relevo
submarino;
- Na superfície terrestre, a erosão é uma força destrutiva de relevo, podendo, ao longo de milhões ou bilhões de
anos, arrasar integralmente uma cadeia montanhosa. Mas, se estivermos pensando
apenas nas formas de relevo, a erosão pode ser considerada uma escultora, que
vai desenhando formas, mas uma escultora insatisfeita, que vai esculpindo até
nada mais sobrar. Porém, ao mesmo tempo em que destrói, a erosão constrói outros relevos, e é a causa da
deposição de sedimentos em áreas mais baixas, dando origem a planícies, por
exemplo.
Considerando a escala planetária, nos últimos 60 milhões de anos (vide
escala geológica do tempo) não têm ocorrido eventos tectônicos que construam relevo, mas têm ocorrido, de
forma incessante, processos que destroem
relevo, que, na verdade, vão lhe dando formas. Trata-se da erosão,
cujos agentes principais são as águas, as geleiras e os ventos. A erosão
remove, desgasta, transporta os resíduos e deposita-os em outras localidades
mais baixas.
Considerando as origens e a evolução (dinâmica) das formas de relevo,
vale reconstituir as forças trabalhadas: o tectonismo e a erosão. Ambas são responsáveis tanto pelas formas como pela altura do relevo ao longo do território
brasileiro.
O
tectonismo, a erosão, as formas e a altura são palavras-chave,
fundamentais e suficientes para se entender e ver o relevo brasileiro. De
modo geral, qualquer forma de descrever e classificar o relevo brasileiro vai
combinar e fundir esses quatro elementos:
Como é possível
ver o relevo em uma extensão e em uma escala tal como a do território do
Brasil? Não é fácil, dadas as dimensões e também a
variedade do que nossos olhos verão. Não se vê o relevo de um território sem
algum treino, sem alguma preparação. Ao olhar o relevo sem preparação, seremos
como míopes; na verdade, precisamos de critérios e de organização, que vão
funcionar como óculos especiais para vermos o relevo brasileiro.
Um primeiro
passo será ter sob controle as grandes formas de relevo, ou as macroformas do
relevo: planalto, planície, cadeias montanhosas e depressões.
Em nosso
território, não temos cadeias montanhosas recentes e nem altas, pois
foram quase integralmente erodidas (aqui existem apenas testemunhos de
dobramentos antigos na estrutura geológica). Apenas as outras três macroformas
estão presentes no território brasileiro: planícies, planaltos e depressões.
O mapa “Brasil: formas de relevo”,
nas páginas 22 e 23 do caderno do aluno, traz uma
proposição de classificação do relevo na escala do território nacional.
Trata-se de uma representação qualitativa, que procura diferenciar os
elementos representados fazendo uso do recurso de cores distintas. Talvez o
mapa não tenha resolvido bem como diferenciar os compartimentos, que na verdade
são apenas três, com subdivisões. A questão é que as subdivisões ficaram com o mesmo
peso visual que as três compartimentações fundamentais (planícies, planaltos e
depressões). Outro problema: os tons de marrom imprimem em nossos olhos uma
ordenação de um mesmo fenômeno, que não é o caso aqui. Pode ser que isso fosse
mais bem resolvido se a diferenciação dos compartimentos fosse feita com três
cores, e as subdivisões estivessem assinaladas com números, tal como acabou
sendo utilizado.
O mapa tem de mostrar os três compartimentos, a nitidez e a posição que eles têm de ter na hierarquia visual, e não podem confundir visualmente sob o peso das subdivisões.
O mapa tem de mostrar os três compartimentos, a nitidez e a posição que eles têm de ter na hierarquia visual, e não podem confundir visualmente sob o peso das subdivisões.
Há uma evidente associação das formas de relevo à
estrutura geológica subjacente (embaixo de outro). Os critérios que esse autor
utiliza levam em conta os processos constituintes (erosão, deposição e tipo de
estrutura), e ele procurou deixar isso ressaltado no mapa.
O importante é ver a distribuição das formas de relevo do Brasil e
compreender a lógica que explica a existência das macroformas associadas a
vários fatores naturais que atuam no interior e na superfície terrestre.
O território brasileiro não possui grandes altitudes e não tem eventos
tectônicos recentes; é muito trabalhado pela erosão e tem quase 99% de sua
extensão formada por terrenos com menos de 1 200 m de altitude: 41% têm de 0 a
200 m e 58,5% chegam a até 1 200 m.
Outras classificações de relevo são possíveis, e só dependem dos
critérios empregados, e dos elementos considerados e reunidos. Além disso, as
formas de relevo podem ser trabalhadas em combinação com outros elementos da
paisagem, tais como as formações vegetais e as condições climáticas. Esse é o
caso de uma classificação muito conhecida proposta pelo geógrafo Aziz Ab’Saber
denominada Domínios Morfoclimáticos, que podemos observar no mapa “Brasil: domínios
morfoclimáticos”, na página 25 do caderno do aluno. Esse mapa trata-se também
de uma representação qualitativa que diferencia compartimentos.
Situação De Aprendizagem 7
Águas no
Brasil: gestão e intervenções
Um agente erosivo fundamental é a água. Seu movimento na superfície
terrestre se orienta conforme a gravidade e, nesse movimento, estruturam-se
rios maiores e menores que se articulam, formando bacias hidrográficas. Estas,
por sua vez, terminam sendo a referência para medir, controlar e administrar
as águas sobre a superfície. Isso porque, ao se falar de água, estamos nos
referindo ao principal recurso natural que dá suporte à vida humana e à vida
de modo geral.
Neste capítulo, vamos iniciar as discussões sobre os recursos naturais
e as formas de uso e gestão empregadas no Brasil.
O que inaugura essas discussões é justamente a questão da água: a
grande disponibilidade em nosso território, sua distribuição no território,
marcadamente desigual e os problemas associados ao seu uso e desperdício.
Uma afirmação que já se tornou senso comum: o Brasil tem uma posição bem
favorável em matéria da presença
daquele que é, sem dúvida, o principal recurso natural do planeta: a água. Em
2005, o país dispunha de 8233 km3 (km cúbicos) de recursos hídricos
anuais renováveis (água doce), ou seja, 14,9% dos 55273 km3 do
planeta. A disponibilidade média anual por habitante é de 45 573 m3,
o que é um índice muito elevado.
Sendo assim, o
Brasil enfrenta problemas com o abastecimento de água para o consumo da
população e para as atividades econômicas que exigem o uso da água?
Uma desconfiança
é saudável em relação a afirmações muito otimistas nessa área. A questão da
gestão e do uso de recursos naturais está sempre cercada de muita complexidade,
pois são vários os fatores que interferem e, por vezes, o fato de um país ter
boa disponibilidade de um dado recurso não garante que seja bem utilizado ou
que não venha a faltar.
Alguns elementos, que problematizam o nosso "privilégio" em
relação à água, foram listados na página 31 do caderno do aluno. Essa lista dá
uma idéia da multiplicidade de problemas que envolvem o uso da água como
recurso natural. É evidente que é melhor ter a disponibilidade de água que há
em nosso país do que não ter, mas, como já foi dito, isso por si só não garante
o abastecimento justo e sustentável desse recurso em benefício de toda a
população; portanto, tal disponibilidade não dispensa a necessidade de uma
gestão inteligente desse recurso.
A distribuição geográfica da
água é um deles: a região de menor densidade demográfica do país, a
Amazônia, tem o maior volume de água doce, representando, na verdade, mais de
70% do volume das águas das bacias hidrográficas do país. Áreas bem mais
povoadas não têm toda essa disponibilidade. Algumas delas vivem, inclusive, situações
de escassez, como no caso do semiárido nordestino, ou, em outra escala
geográfica, centros urbanos como a metrópole de São Paulo. O que mais pode ser acrescentado a esse problema
relativo à distribuição das águas no território nacional? Há problemas de abastecimento de água
no cotidiano de cada um? Falta de
água? Custo elevado? Água de má qualidade?
Água: da abundância à escassez, uma questão de gestão
O mapa “Brasil: regiões hidrográficas”, na página 30 do caderno do aluno,
dá uma idéia da abundância de água no Brasil. Em comparação com o restante do
mundo, o Brasil detém 12,7% da água doce superficial do mundo e, em razão
disso, é considerado um país rico nesse recurso fundamental para a vida;
porém, o mapa e esse dado em relação ao planeta não são suficientes para
mostrar a desigualdade dessa distribuição no Brasil. Por isso, observe a tabela
“Brasil: área e produção hídrica absoluta e relativa das regiões
hidrográficas”, na página 29 do caderno do aluno.
O intuito é contrastar o que significa a região amazônica e sua
hidrografia no conjunto brasileiro, algo que não é possível se constatar
somente por meio do mapa. Em comparação com outras áreas mais habitadas, fica
evidenciado que o Brasil mais populoso, urbanizado e industrializado não tem
tanta água disponível. Daí, quem sabe, surjam projetos ousados e temerários
que transfiram água de localidades abastadas (ricas) para as carentes, algo que
na escala territorial do Brasil está muito longe de ser simples, como, por
exemplo, a transposição das águas do Rio São Francisco, que será discutida mais
adiante.
Para trabalhar a questão do uso e da gestão da água no Brasil, muitas
possibilidades podem ser adotadas, haja vista a imensidão de situações e
relações em que esse recurso está presente. Exploraremos duas situações de
escalas distintas:
- Na escala das cidades
(escala local): a metrópole de São Paulo
Um rio é uma realidade regional. Porém, suas condições variam segundo
escalas menores. Nesse momento, vamos explorar a condição local dos rios na
escala da metrópole de São Paulo.
A cidade de São Paulo possui alguns rios no seu espaço, na sua paisagem:
Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, mas como exemplo, vamos falar do Rio Tietê, um
dos mais importantes. Qual é o problema do nosso mais importante rio, na mais importante
cidade do Estado e do país? O Rio Tietê corta
a capital paulista próximo à região central, assim como o Rio Sena corta Paris.
Veja a foto do Rio Tietê, na página 33 do caderno do aluno.
Como é a
estrutura básica do Rio Tietê na área de metrópole e como ela favorece a degradação
do rio? O rio é muito usado pela população? Como é usado? Que efeitos tem esse
uso para o rio?
Essas questões a propósito do Rio Tietê resumem os dramas que cercam o uso dos
recursos naturais no Brasil.
O Rio Tietê nasce na região metropolitana de São Paulo, logo, esse é o
segmento onde ele possui menos água, ao mesmo tempo em que é nessa área que ele
recebe a maior sobrecarga de poluentes e objetos sólidos de todos os tipos. Em
direção ao interior, a sobrecarga diminui e o volume de água aumenta. Isso
explica porque o rio está praticamente morto na metrópole, mas adquire vida no
interior. Esse também é o caso do Rio Sena, na França; no entanto, obras de
desvios de outros rios para o Rio Sena na área metropolitana de Paris
aumentaram seu volume de água, ajudando a melhorar as condições de suas águas.
O Rio Tietê sofre uma imensa sobrecarga, não por ser muito usado, mas por ser usado de uma única maneira na
área metropolitana, o que inviabiliza outros usos. Fosse mais
intensamente usado, melhor seria seu estado. Parece contraditório? Mas não é! E
como isso pode ser demonstrado? O Rio Tietê é parte (e já foi a principal) dos
sistemas de saneamento e de limpeza da cidade. E isso se mantém até os dias de
hoje, sem que as autoridades mostrem força para conter o que já é proibido por
lei. Esse uso impede todos os outros. É possível fazer uma lista:
- As águas do Tietê não podem
ser usadas para beber nem para irrigar plantações. A cidade tem de captar água
no Alto Tietê, região menos poluída, sendo que o segmento que corta a cidade
não pode contribuir para o seu abastecimento;
- O Rio Tietê não é fonte de
alimentação, não há peixes em um rio poluído;
- A navegação
na área metropolitana poderia ser ao menos utilizada
como transporte e lazer, e isso, nas condições atuais, é impossível;
- Suas águas poluídas dificultam
o seu uso para a geração de energia;
- O rio não se apresenta como
uma área de lazer e suas várzeas não são valorizadas, em razão da imensa
poluição. Suas várzeas são usadas também para escoar uma frota automobilística
gigantesca;
- O Rio Tietê não pertence
positivamente à paisagem da cidade de São Paulo, que, em geral, procura
ignorá-lo, sem deixar de usá-lo da forma inadequada como faz.
Assim, pode-se dizer que houve uma opção por um uso limitado do Rio
Tietê e, desse modo, ele está sendo muito deteriorado. Se esse uso (sistemas de
saneamento e de limpeza) fosse encerrado, todos os outros poderiam ser
colocados em prática, e ele estaria em melhores condições.
- Na escala de uma grande
bacia hidrográfica (escala regional): O caso da transposição das águas do Rio São
Francisco
O semiárido é uma região do Nordeste brasileiro que sofre de escassez
hídrica natural, afetando gravemente sua população. Isso soa estranho em um
país com tamanha abundância de água. Na região, vindo do sul, há um grande rio,
o São Francisco, que constitui uma das mais importantes bacias hidrográficas do
país e se estrutura em parte no domínio morfoclimático marcado pelas
depressões interplanálticas semiáridas do Nordeste, como podemos observar no
mapa “Brasil: domínios morfoclimáticos”, na página 25 do caderno do aluno. Este
rio, que já teve vários usos, encontra-se em situação problemática: suas águas
diminuíram de volume; há barragens e represas no seu curso; está bastante
assoreado (entulhado) e a carga de poluentes que recebe das áreas urbanas e
das zonas agrícolas tem aumentado.
Como gerir e
revitalizar esse rio? Será essa a discussão mais importante?
Não, não é! O
Rio São Francisco é alvo, atualmente, de uma grande e controversa obra que
busca transpor para o interior do semiárido, parte de suas águas. Essa
empreitada ficou conhecida como transposição do São Francisco. O termo transposição significa
a transferência de águas de uma bacia para outra. No que diz respeito à escala
da obra, quando se interfere no curso de um rio tão grande quanto o São
Francisco, influencia uma vasta bacia hidrográfica e não se sabe ao certo como
isto pode impactar o meio ambiente, com suas formações vegetais e fauna. As
consequências sociais e econômicas de uma obra desse porte não podem ser
previstas com segurança. Uma demonstração disso é que existem variadas
opiniões a respeito: opiniões contrárias e favoráveis, de engenheiros, de
ambientalistas, de geógrafos, de geólogos, de especialistas em hidrografia
etc.
Vamos ler um documento
oficial, do Ministério do Meio Ambiente, “Águas: um bem público em risco”, na
página 34 do caderno do aluno. Uma questão a respeito desse texto deve ser
destacada a fim de integrar as preocupações e as reflexões. Se a gestão pública dos recursos hídricos do
país é tão precária, inclusive em ações mais simples, se praticamente não há
políticas públicas de conservação desses recursos (e a descrição do texto não
deixa dúvidas), que confiança se pode ter na pertinência da obra na correção e
previdência dos estudos que a fundamentam?
Uma obra dessa
envergadura, e que já está em andamento, foi suficientemente discutida por
todos os setores da sociedade? Essa é uma
questão de fundamental importância em uma sociedade democrática. Seria muito
bom refletir sobre tudo isso.
Aqui vale lembrar uma fábula para estimular a reflexão: o aprendiz de
feiticeiro. De acordo com esta fábula, conhecida e repetida muitas vezes na
literatura e no cinema, por meio de diversos personagens, a confiança
excessiva no poder da magia (no caso do Rio São Francisco, no poder da técnica)
pode levar os aprendizes a perder o controle do que fazem. Qual a segurança e a certeza a respeito dos desdobramentos
e consequências da obra? Isso é muito importante para a análise do
texto: verificar se os argumentos são cercados de "pode ser que",
"é provável que", "não se sabe quanto", "é possível
que", "se tudo der certo" e outras expressões do gênero. Qual o
nível de incerteza que uma obra dessas pode comportar? Será que vale a pena
correr o risco de uma intervenção que pode salvar ou melhorar vastas áreas, mas
também pode ser um imenso desastre?
Esses exemplos ilustram-se formas possíveis de questionar as políticas
referentes aos recursos naturais, um dado importante das relações que
estabelecemos com o mundo natural: a primeira forma trata mais de gestão do
uso; a segunda, refere-se principalmente à reorganização da distribuição dos
recursos naturais na superfície terrestre, com o ser humano pondo em prática (e
arriscando) o seu engenho técnico.
Situação De Aprendizagem 8
Gestão dos
recursos naturais: o “estado da arte” no Brasil
A princípio, é justo admitir que os recursos naturais de um país sejam
bens públicos. Boa parte deles (terras, solos, águas) é indispensável à vida
social e não existiriam sociedades se eles não fossem, ao menos parcialmente,
utilizados de forma a beneficiar grupos humanos amplos. É certo que, ao longo
da história mundial e nas sociedades modernas, vários desses recursos foram
privatizados. Porém, essa forma de organizar o acesso aos recursos não exime os
Estados de realizar políticas, ações e ordenamentos jurídicos para garantir
que os recursos naturais sejam bem utilizados e que as populações não sofram
com a escassez de recursos que estão monopolizados nas mãos de poucos.
Além desse aspecto, é obrigação dos órgãos governamentais,
especificamente, e públicos em geral, zelar pelo uso racional e sustentável e,
também, pela conservação dos recursos naturais presentes no território, seja em
áreas públicas, seja em áreas privadas, que, por sua vez, devem seguir regras
públicas.
Neste último capítulo será discutido um breve panorama da gestão
pública dos recursos naturais, uma preocupação pouco presente na agenda
política nacional, a não ser recentemente, quando se percebem sinais e esforços
sobre a necessidade de gerir bem esses recursos, que embora indispensáveis, podem
desaparecer.
Natureza e
recursos naturais são sinônimos? Recurso para quem? Tudo na natureza é recurso
natural para o ser humano? Ou, mais
detalhadamente: Tudo o que hoje é
recurso natural para o ser humano também era recurso natural para os nossos
antepassados?
Recurso natural é o conjunto de elementos da
natureza importantes para a vida humana, valorizados diferencialmente pelos
seres humanos segundo a época e as diversas culturas.
A idéia de recursos naturais tem o ser humano no centro, e não a
natureza. Um exemplo, entre outros, pode mostrar como os recursos naturais
mudam segundo culturas e épocas históricas: o urânio é o que chamamos hoje de
recurso mineral, importante matéria-prima que, processada, torna-se
combustível para obtenção de energia nuclear, empregada na geração de
eletricidade, nos transportes, além de servir também para importantes
aplicações na medicina. É um recurso natural para a sociedade contemporânea,
em razão de uma dada tecnologia desenvolvida. Mas não era para as sociedades do
passado. E quem sabe não será também para as sociedades do futuro, visto que se
trata de um recurso aplicado a uma tecnologia inicialmente utilizada para a
fabricação de armamentos e que ainda não tem uso civil muito seguro; por tudo
isso, pode vir a ser desprezado.
O exemplo do urânio serve para mostrar o caráter mutante da idéia de
recurso natural.
Não há mudanças somente quanto ao que é recurso para uma ou outra
cultura. Atualmente, há outras mudanças importantes sobre o modo como o ser
humano se relaciona com os recursos naturais: são mudanças éticas. A nova
leitura ética sobre essa relação pergunta: É justo que os seres humanos usem os recursos naturais considerando
apenas seus interesses e de tal maneira que leve à extinção outros seres
vivos? É justo que as sociedades contemporâneas usem incessantemente os
recursos naturais, sem os cuidados devidos, desperdiçando de modo a não haver
garantia de recursos para as gerações humanas futuras?
Cuidados com os outros seres vivos e com as gerações futuras significam
mudanças nas relações do ser humano com a natureza e com o que ele escolher
como recurso natural. Algo nessa direção está sendo designado como desenvolvimento sustentável. É
importante lembrar que há recursos naturais renováveis e não renováveis, cujo uso e gestão deve ser considerado
de forma muito diferente, dentro do conceito de desenvolvimento sustentável.
O nascimento de uma preocupação: a gestão dos recursos naturais
Vamos ler um importante texto, “Gestão dos recursos naturais”, na página 36 e 37
do caderno do aluno, que aponta, tendo como perspectiva, as novas preocupações
éticas, a sustentabilidade e o caminho a ser trilhado pela gestão pública dos
recursos naturais.
O texto começa com uma lista de estratégias que devem ser
implementadas. Deve-se ressaltar que todas partem do princípio de que os
recursos naturais são bens que têm uma dimensão pública, e que devem ser
tratados assim; por isso, a proposição da máxima participação dos cidadãos.
A segunda parte do texto levanta algumas condições necessárias para
criar idéias e políticas de gestão dos recursos naturais, que, conforme os
princípios da sustentabilidade, são bens públicos e devem ser tratados como
tal. Além disso, aponta a importância do conhecimento do meio natural e de
algo bastante discutido anteriormente: as interações entre os meios abióticos
(domínios naturais = litosfera + hidrosfera + atmosfera) e o meio biótico
(meio ambiente = domínios naturais + vida).
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada no Rio de Janeiro, em 1992, aprovou um documento denominado Agenda 21, que contava com uma série
de compromissos entre os países que o assinaram e que assumiram o desafio de
incorporar em suas políticas públicas ações com vistas a um desenvolvimento
sustentável. A idéia era que os países criassem para suas realidades
específicas uma Agenda 21 Nacional, e isso foi realizado no Brasil, sob a
coordenação do Ministério do Meio Ambiente. O texto apresentado vem do
documento elaborado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e
da Agenda 21 Nacional.
Leia um pequeno trecho da Constituição
Federal do Brasil, na página 38 do caderno do aluno.
Estão observando
algo que pode ser designado como nova
preocupação ética no que se refere à nossa relação com a natureza e, por
consequência, com os recursos naturais? Notam que a idéia de sustentabilidade
está, de algum modo, incorporada em nossa lei maior? Notam que este trecho da Constituição se harmoniza, de
modo geral, com o texto da Agenda 21 brasileira? Na Agenda 21 brasileira, os recursos são
tratados como bens públicos? Há investimentos no conhecimento desses recursos?
A seguir,
alguns exemplos de recursos naturais. Há muitos outros, que podem ser
regionalizados e aplicados às realidades locais. O que importa é encarar essa
realidade e ter a oportunidade de perceber o quanto há por fazer na área de
gestão pública dos recursos naturais do Brasil:
- O recurso solo: no Brasil, o uso predominante do solo é na
agropecuária. No entanto, mais de 1/3 (35,3%) do território é inadequado para
as atividades agrícolas e para a pecuária. Apenas 4,2% são solos profundos,
bem drenados, predominantemente de textura média ou argilosa, com fertilidade
natural. São 35 milhões de hectares nessas condições. No Brasil, os solos não
são bem tratados, perdas importantes são notadas, e áreas com solo em estado
crítico são muito comuns. O conhecimento sobre a dinâmica dos solos e sobre as
formas de conservação é crescente, mas a legislação e a fiscalização de
proteção são frágeis;
- Os recursos hídricos: já estudado anteriormente, há muito o que saber
e informar sobre águas subterrâneas (por exemplo, mais de 60% dos municípios
brasileiros são abastecidos por águas subterrâneas) e sobre as políticas de
proteção a esse recurso;
- Os recursos oceânicos e das zonas costeiras: representam, enquanto
paisagem, recursos turísticos, mas são também fontes de alimentação e áreas de
mineração, como a extração de petróleo nas plataformas continentais. O Brasil
possui uma costa imensa (7 367 km) com várias metrópoles litorâneas e grandes
preocupações com a poluição dessas áreas. Nelas, nota-se intensa ameaça à
fauna marítima, além de outros prejuízos graves a esse manancial (fonte) de
recursos;
- Os recursos biológicos (da diversidade
biológica): as espécies vegetais desconhecidas podem beneficiar a humanidade
de diversas formas, com aplicações na indústria farmacêutica, na culinária
etc. Além disso, vale aqui o princípio ético de respeito à vida das outras
espécies. Políticas de preservação e de gestão de recursos já existem (as
Unidades de Conservação), mas, no Brasil, a implementação encontra grande
resistência, pois não se enxerga aproveitamento econômico nas florestas, nem se
vê sentido em preservar as formações por motivos éticos.