Textos para 3a. série - Ensino Médio
- 4o. bimestre
Da Situação De Aprendizagem 5 ate Situação De Aprendizagem 8
Os fluxos materiais
Este
capítulo, em particular, após apresentar e discutir os principais tipos de fluxos da globalização (materiais e
imateriais), cujo meio geográfico é o técnico-científico-informacional,
abordará o comércio internacional de mercadorias como um dos principais
fluxos materiais, enfatizando algumas causas de seu incremento no atual
período histórico.
Para
dar início ao desenvolvimento das noções de rede e fluxo, relacionando-as,
em geral, ao processo de globalização e, em particular, ao sistema de
transportes e ao comércio internacional de mercadorias, vamos usar dois
exemplos significativos de fluxos materiais: uma leitura cartográfica
acrescida de um pequeno texto. O mapa tem por objetivo compreender como os
fluxos de transportes influem diretamente nos processos de distribuição de
mercadorias, característica marcante da globalização, e o texto reforçará os
conceitos de redes e fluxos de transportes.
A modernização
do sistema de transporte pode agilizar a distribuição de mercadorias e
contribuir para a diminuição dos custos finais de produção. A ampliação da capacidade de carga dos navios
é responsável por facilitar o transporte e baratear custos: a modernização nas
formas de armazenamento para transportes com o uso de contêineres evitam perdas
e a ampliação da velocidade diminui o tempo de distribuição das mercadorias.
Os fluxos materiais são aqueles representados por objetos que possuem
materialidade e volume e, portanto, compõem uma imensa gama de sistemas de
infraestrutura e de mercadorias. Já os fluxos imateriais são aqueles disseminados
pelos meios de comunicação e informação, como a internet e a telefonia, e que
influem em nossas vidas, alteram a nossa economia, mas que não são palpáveis
e, portanto, não têm materialidade.
Na atualidade, há uma relação de interdependência
entre os fluxos materiais e imateriais. Se, por um lado, toda a infraestrutura
dos setores de comunicação e informação compõe-se de uma base material, que
compreende satélites, fiações, cabos submarinos etc., por outro, o que por
elas é disponibilizado resulta em fluxos imateriais e que são utilizados pelas
mesmas empresas responsáveis por fabricar todas essas tecnologias.
A rede
bancária funciona interconectada e há uma infindável gama de transações
financeiras realizadas por essas instituições. As bolsas de valores do mundo
inteiro operam em conexão e influem na economia dos mais diferentes países.
Também todo o setor do e-commerce
(comércio via internet) só existe em
função de ser disponibilizado on-line. Esses são exemplos econômicos. Porém há uma variedade de transações
que ocorrem por meio do fluxo imaterial que não podem ser consideradas
econômicas, mas sim, culturais. Este é o caso dos contatos por email, das
relações que se estabelecem no Orkut ou Facebook, das transações de músicas em mp3, de filmes no YouTube etc.
Leitura e
interpretação de mapa temático e texto
Apresentado
os conceitos dos fluxos materiais e imateriais e o entendimento do
funcionamento da rede de transportes, vamos analisar o mapa “Comércio mundial
de mercadorias, 2004”, na página 12 do caderno do aluno, relacionando-o à
intensificação dos fluxos vigentes no processo de globalização em curso. As
mudanças tecnológicas importantes têm ocorrido de maneira cada vez mais
acelerada nas últimas décadas.
A
superfície dos círculos e a espessura das setas nele contidos retratam a maior
participação de algumas regiões do mundo, em porcentagem, no comércio ou fluxo
internacional de mercadorias.
O meio
geográfico é cada vez mais impregnado de técnica, ciência e informação, o que
nos permite falar na formação de um meio técnico-científico-informacional neste
período histórico da globalização, conforme os pressupostos defendidos pelo
geógrafo Milton Santos. O meio técnico-científico-informacional constitui o
meio geográfico característico do atual período histórico e, como o próprio
nome indica, é composto de sistemas de
objetos (estradas, aeroportos, fábricas, redes de internet) altamente
modernizados, que permitem uma grande
fluidez ou mobilidade aos produtos e aos fluxos de informação das
grandes corporações transnacionais.
Para
ilustrar, vamos ler o texto “O espaço
geográfico como sistema técnico”, nas páginas 5 até 8 do caderno do aluno e
analisar a tabela “Fluxos do meio técnico-científico-informacional”, na
página 10. O comércio ou fluxo
internacional de mercadorias constitui apenas um tipo de fluxo material. O
aumento da quantidade de dólares envolvida nas exportações, que podemos
observar na tabela “Evolução das exportações de mercadorias – em bilhões de
dólares”, na página 11 do caderno do aluno,
fornece uma idéia precisa do que significou para o comércio
internacional o período da globalização.
Agora,
observando a tabela “Exportação de mercadorias”, na mesma página, identificamos
o aumento da exportação de mercadorias em quase todas as regiões do mundo entre
1993 e 2007. A participação de algumas mercadorias, em porcentagem, auxiliou no
comércio e no fluxo internacional de mercadorias (Europa, Ásia e Oceania e
América do Norte).
A
comparação entre o que está representado no mapa e a tabela “Exportação de
mercadorias” assinala o expressivo destaque dos países situados na média
latitude (Europa, Ásia e Oceania, América do Norte), em contraposição aos da
baixa latitude (trópicos) e dos de alta latitude (subpolares). Há inúmeras explicações
para isso: a desigual distribuição dos recursos naturais, a história, a
organização dos modos de produção etc.
Cabe
à Geografia, pesquisar e interpretar esse padrão de produção e distribuição de
mercadorias ao nível mundial. Quais teriam sido as causas do aumento
extraordinário de fluxos comerciais e por que apenas algumas regiões do planeta
se destacam quando o assunto é comércio internacional?
O aumento na
demanda em todos os países por todo tipo de produto
No período
técnico-científico-informacional em curso, ocorreu um expressivo aumento
populacional - de 2,5 bilhões de habitantes, em 1950, o mundo passou a contar
com 6,1 bilhões em 2000 e 6,8 bilhões em 2009. Em parte, o acréscimo de mais de
4 bilhões de pessoas no mundo, durante esses 59 anos, explica o aumento do
comércio internacional. Contudo, é importante salientar que, além do
crescimento da população mundial, houve também, em algumas regiões do mundo,
uma melhoria da qualidade de vida, principalmente nos países do centro da
economia capitalista: Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental e Japão,
além de um incremento do consumo em todos os níveis. A expansão do meio
técnico-científico-informacional permitiu que essas regiões se
industrializassem ainda mais e diversificassem a sua produção, propiciando o
assalariamento da maioria da população e, em consequência, a sua entrada no
consumo de massa. Além das diferentes características naturais (presença ou
não de petróleo, minerais etc.) e diferentes tipos de sistemas produtivos,
visto que algumas regiões são essencialmente agrícolas, outras mais industriais
e outras especializadas no setor de serviços, há uma tendência para que se
ampliem as trocas comerciais entre essas regiões, pela diminuição dos custos
dos transportes.
Em
princípio, a complementaridade entre as regiões (cada uma exporta aquilo que
produz em excesso e importa o que não produz ou o que não produz o suficiente)
cria uma interdependência entre elas, típica da atual fase da globalização.
Essa interdependência não é neutra, isto é, como, no mundo capitalista, as
trocas comerciais acabam sempre favorecendo um conjunto de certas regiões em
detrimento (prejuízo) de outras. Desse modo, tais desigualdades são resultantes
da divisão internacional do trabalho, porque certas regiões, com sistema
produtivo mais moderno, conseguem exportar produtos com maior valor agregado, forçando as regiões
menos modernizadas (principalmente os países em desenvolvimento) a produzir
apenas alguns tipos de mercadorias, em especial aqueles de origem agrícola ou
mineral. Ao produzirem somente bens do setor primário (carvão, petróleo,
minerais e produtos agrícolas), cujos preços no mercado internacional, no
geral, têm declinado, essas regiões são forçadas a aumentar a produção e a
venda desses produtos para poder adquirir mercadorias mais modernas, como aviões,
computadores e aparelhos eletrônicos.
Valor agregado corresponde à
quantidade de trabalho realizado na fabricação de um produto. Quanto mais
tecnologia e conhecimento aplicado forem necessários para produzir a
mercadoria, maior será seu valor agregado.
A melhoria e a
queda dos custos dos sistemas de transporte
Apesar
dos avanços das tecnologias da aviação e dos transportes terrestres, grande
parte das trocas comerciais internacionais, em termos de valores (dólares)
negociados, é realizada até hoje por via marítima. Aliás, hoje, cada um dos
grandes navios transatlânticos consegue transportar muitas toneladas a mais do
que conseguia transportar num navio "moderno" no início do século
XX. Uma segunda melhora importante nos sistemas de transporte diz respeito à
forma de acondicionamento das mercadorias. A técnica de transporte em
contêineres permite colocar e transportar as mercadorias em caixas metálicas,
resultando em vários benefícios, como impedir que não haja rupturas no
processo de transporte, facilita e agiliza o embarque, o desembarque e o
transbordo dos produtos e diminui as possibilidades de acidentes e de perda das
mercadorias desde as fábricas onde são produzidas até os estabelecimentos
comerciais onde serão vendidas. Além disso, a maior integração entre os
diferentes tipos de transporte permitiu criar sistemas modais, por meio dos
quais ocorreram barateamento e agilidade em todos os processos, desde a coleta
até a distribuição e o armazenamento das mercadorias. A informatização do setor
de transportes foi responsável por sua modernização e a logística de
abastecimento, aliada às vendas on-line,
ampliou a capacidade de entrega e distribuição das mercadorias.
Liberalização
das regras comerciais que regulam as trocas
A difusão do meio
técnico-científico-informacional permitiu às grandes empresas transnacionais
ampliarem de forma significativa o seu poder na globalização, com reflexos
também nas trocas mundiais comerciais. Por exemplo, em 1947 foi assinado o Acordo
Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade - Gatt), que tinha como
principal proponente os Estados Unidos, e visava à gradual diminuição das
tarifas aduaneiras comerciais das nações. A expressão "tarifas
aduaneiras" refere-se à carga de impostos pagos pelo país exportador para
que suas mercadorias possam ser comercializadas no país receptor, uma das
principais formas de que dispõe uma nação para proteger o seu sistema
produtivo. Os países detentores de um meio técnico-científico-informacional
mais desenvolvido, como, por exemplo, Estados Unidos, Alemanha e Japão, sedes
de grandes corporações transnacionais, conseguem produzir mercadorias em maior
quantidade e por preços menores. Esses países aliam-se na defesa pela diminuição
das tarifas alfandegárias, com vistas a ampliar seus mercados em países em
desenvolvimento. Desse modo, seus produtos invadem essas nações, dificultando,
muitas vezes, a situação de indústrias locais, que, não tendo a mesma
facilidade de acesso à tecnologia, não conseguem fazer frente aos preços
praticados pelas empresas transnacionais.
Situação De Aprendizagem 6
Fluxos de idéias e informação
Nesse
capítulo, vamos abordar os fluxos
imateriais, conteúdos e temas relativos aos fluxos de informação, responsáveis por uma nova qualidade de
comunicação entre os povos, com grandes impactos culturais no mundo. Os fluxos financeiros, que juntamente
com os primeiros, constituem os dois grandes motores da globalização atual, ocasionando
rápidas e intensas transformações em boa parte das regiões e sociedades do
mundo.
Em
15 de abril de 2008, a imagem “Representação gráfica dos detritos espaciais em
volta da Terra”, na página 16 do caderno do aluno, foi uma das que foram
divulgadas pela Agência Espacial Européia (ESA, na sigla em inglês), retratando
o lixo espacial na órbita da Terra. De acordo com a agência, desde o primeiro
lançamento (1957) até janeiro de 2008, cerca de 6 mil satélites foram enviados
para a órbita terrestre. Na data de divulgação das imagens, a estimativa era de
que apenas 800 deles estariam ativos, dos quais 45% localizados a uma distância
de até 32 mil quilômetros da superfície terrestre.
Explorando
as nuances ambientais e tomando-a como mote para refletir sobre a amplitude do
atual meio técnico-científico-informacional, pergunto: O que vocês entendem
pela expressão "sociedade da informação" e quais impactos conhecem
das tecnologias de comunicação na cultura e na economia mundiais?
A
aceleração contemporânea altera a natureza do espaço geográfico, imprimindo um
novo ritmo às ações humanas. Certas inovações técnicas contribuíram para a
mudança na relação espaço-tempo no atual período
técnico-científico-informacional.
Vamos ler o texto “Os fluxos de informação”, na
página 17 do caderno do aluno.
Apesar de ainda não haver homogeneidade na
distribuição desses bens (telefone, radar, fotografia, rádio, bomba atômica,
transistor, circuito integrado) citados no texto, eles influenciam em demasia
nossa vida cotidiana, e boa parte dessas novas criações acabou revolucionando
um dos setores mais importantes da atividade humana: as comunicações.
A aceleração contemporânea é entendida como o
momento em que eclodem forças concentradas da sociedade em sua relação com a
natureza, e justamente o resultado da proliferação de invenções técnicas em
vários setores da atividade humana é que aumenta os ritmos e os fluxos do
espaço geográfico.
Os satélites são uma das mais significativas
novidades técnicas de transporte de informações. Operados por meio de estações
transmissoras e receptoras de sinais instaladas em terra, os satélites
contribuíram para quatro importantes mudanças:
1. A distância está deixando de ser uma barreira
para a difusão das informações, pois, agora digitalizadas, podem ser
transferidas para regiões que possuam os equipamentos necessários (antenas
receptoras), onde esses fluxos são absorvidos;
2. Cada vez mais, a fala, as imagens e os textos
são transmitidos de maneira semelhante, por meio de impulsos eletromagnéticos;
3. Desenvolveu-se a chamada "sociedade da
informação": cada vez mais as pessoas precisam de informações para o seu
trabalho (dados sobre a economia, outras culturas, suas atividades
profissionais) e também para o seu lazer (produção de filmes, televisão a
cabo). "Informação" é diferente de "comunicação" e não
podem ser tratadas como sinônimos. A comunicação se faz com informações, mas
nem todas as relações comandadas pela informação realizam plenamente a
comunicação. A diferença é sutil, mas importantíssima. O telefone é quase sempre
um meio de comunicação: nele os
participantes têm papel comum. Ambos
podem falar e ouvir. Por sua vez, a televisão é um meio de informação que não realiza a comunicação por inteiro.
Não há posição comum entre o
emissor e o telespectador. O emissor fala, enquanto o receptor assiste e ouve.
Para a Geografia, é de grande valor a separação entre meios de comunicação e
meios de informação;
4. Também está
havendo a associação entre as tecnologias de computação e de comunicação, por
intermédio das mensagens por bits eletrônicos.
Bit é uma unidade de medida da
informação, assim como o grama para o peso e os centímetros para a distância;
é a conjunção de partes das palavras binary
digit - dígito binário -, em inglês, linguagem que permite a transmissão
e a decodificação de mensagens pelos computadores). O exemplo mais importante
da atualidade é a internet.
Os
fluxos de informações e as redes sociais
Leia o texto
“Internet e inclusão social”, na página 20 do caderno do aluno. Ele foca as novas possibilidades
de comunicação e as diferentes formas de acesso na sociedade da informação.
Estudo de caso:
as redes televisivas mundiais
Para aprofundar o
conteúdo relativo aos fluxos imateriais, vamos recorrer a certos temas
familiares: o das redes televisivas mundiais, consideradas como fontes de
fluxos de informação que carreiam (levam) impactos culturais expressivos,
inclusive na nossa vida.
Durante o século
XX, as trocas internacionais de
filmes e bens culturais - como cinema, fotografia, rádio e televisão, material
impresso, literatura, música, artes visuais etc. - foram importantes para o
desenvolvimento da indústria do entretenimento. Entretanto, atualmente a
intensificação das trocas comerciais entre países, somada à exacerbação do
consumo (características indissociáveis – inseparável – da globalização),
alçou o comércio mundial de bens culturais a uma posição jamais vista. Apenas
para se ter idéia, segundo dados do Relatório
do desenvolvimento humano 2004, do PNUD, em 1980 esse mercado movimentou
cerca de 95 bilhões de dólares em todo o mundo, passando, em 1998, para mais
de 380 bilhões, tendo apresentado, assim, um aumento de quatro vezes.
A globalização e
a revolução nos meios de transporte e de comunicação impulsionaram o aumento
do poder das empresas, particularmente das grandes corporações transnacionais.
No setor de produção de informações e de comunicação, o processo não foi
diferente: assim como existem grandes empresas que fabricam e vendem carros,
roupas e computadores, atualmente também há empresas especializadas em
produzir e vender artigos relacionados ao mundo da informação e da cultura de
massa.
Desde a década
de 1980, as novas tecnologias das comunicações por satélite possibilitaram a
intensificação do processo de difusão cultural e de informações. Entre os
efeitos importantes dessa inovação tecnológica, destaca-se a formação de
poderosas redes mundiais de televisão, que atualmente dispõem de alcance
global. Ao lado disso, o número de aparelhos de televisão por mil habitantes
mais que duplicou em todo o mundo: em 1980, essa relação era de 113‰ (por mil);
em 1995, 229‰; e, desde então, aumentou para mais de 243‰.
Veja o poder das
grandes empresas de telecomunicação: foi por meio de grandes emissoras
norte-americanas que boa parte do mundo foi informada sobre acontecimentos
trágicos e guerras recentes que colocaram os Estados Unidos em evidência: as
guerras contra o Iraque (1991 e 2003) e os bombardeios no Afeganistão (2001),
os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono (11 de setembro de 2001) e
muitos outros eventos. De que maneira e intensidade a formação de nossas
opiniões sobre esses atos de violência passados e outros da atualidade esteve
ou está baseada nas imagens, nos textos e nos comentários que os jornalistas
nos transmitiram?
Em nosso país,
como em muitos outros, poucas notícias sobre os conflitos e acontecimentos
citados foram veiculadas segundo a versão dada por emissoras de outras
nacionalidades e procedência geográfica, como as européias ou árabes, que
contam com elevada audiência no Oriente Médio e entre os imigrantes árabes que
vivem na Europa.
As
emissoras árabes transmitem com frequência uma interpretação diferente dos
canais televisivos ocidentais sobre fatos importantes da realidade mundial. No
contexto televisivo do mundo árabe, em que os canais de televisão se
caracterizam pelo conformismo diante dos fatos e pela reverência aos poderes
políticos constituídos, existem emissoras que, contrariamente, não aceitam se
submeter a um controle direto ou indireto dos poderes políticos que impõem uma
forte censura em face das demais.
Por um lado, ser
informado sobre o que está ocorrendo em outras partes do mundo é fundamental
para que nosso próprio conhecimento ou cultura sejam ampliados (ou mesmo
modificados), no tocante ao mundo em que vivemos e aos nossos próprios espaços
de vivência. Em contrapartida, frequentemente, a informação que nos chega já
está manipulada por redes de comunicação, cujo governo (no caso, dos Estados
Unidos) foi protagonista direto das guerras anteriormente citadas. É necessário
rever hábitos e atitudes quanto às fontes de aquisição de informações, como
também refletir sobre a qualidade do que lemos, escutamos e assistimos.
Rede global e
economia especulativa
A expressão
"especular" significa fazer operações financeiras ou comerciais com
bens negociáveis, a fim de tirar proveito da variação de preços. Com a
globalização, ocorreu um aumento da atividade especulativa sobre as moedas.
A internacionalização
das finanças e o aprofundamento da economia especulativa se tornaram
possíveis, em grande parte, graças a dois conjuntos de fatores:
a) a
liberalização e a desregulamentação das economias nacionais, estimuladas pelo
neoliberalismo;
b) o avanço nos
últimos 20 anos da tecnologia eletrônica, que permite a movimentação
instantânea de dinheiro entre as bolsas de valores de todo mundo por intermédio
das redes de computadores integradas em escala global.
As bolsas de
valores são instituições nas quais se negociam ações e títulos, ou seja,
documentos que certificam a propriedade de um bem ou valor. Atualmente, são
poucas as regiões do mundo que não são influenciadas de algum modo pelas
operações do sistema financeiro globalizado, ou pelo excesso de capital
financeiro acumulado, ou pela total falta dele, ou, por vezes, pela
"fuga" desse capital.
Os
países em desenvolvimento são os que acabam sofrendo mais com essa mobilidade
financeira no mundo. Países como Brasil, Argentina e México tomam uma série de
medidas para que os capitais financeiros permaneçam depositados em seus bancos
(ou que sejam investidos nas bolsas de valores), com a finalidade de aumentar a
quantidade de dinheiro disponível ao desenvolvimento de seus territórios.
Esses fluxos
financeiros são especulativos, isto é, mudam de um lugar para outro no mundo
de acordo com as vantagens oferecidas pela praça financeira. Em outras
palavras, é importante salientar que esses investimentos não são produtivos, ou
seja, eles não são direcionados para a abertura de indústrias, o comércio, o
setor de prestações de serviços ou para as atividades agropecuárias, enfim,
para atividades que geram empregos e riquezas. São investimentos que beneficiam
apenas aqueles que possuem o grande capital e prejudicam a maioria da
população, pois esses ataques especulativos deixam as economias nacionais
desequilibradas, levam a falências e ao desemprego e encarecem os produtos,
complicando ainda mais a vida da população de baixa e média rendas.
Situação De Aprendizagem 7
As cidades globais
Com
base nas noções de rede e fluxos e
na classificação da nova hierarquia da rede de cidades globais no
Brasil e no mundo, vamos focar a cidade de São Paulo e sua participação como
cidade global na classificação da Globalization and World Cities Research
Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino Unido, e a origem
dessas cidades diante das mudanças profundas na composição e distribuição dos
espaços produtivos ocorridas no período técnico-científico-informacional.
Em
2005, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) da capital paulista foi de
102,4 bilhões de dólares (IBGE), com um orçamento anual de 15 bilhões de reais
e arrecadação de mais de 90 bilhões de reais. Esses dados permitem algumas
comparações interessantes. Por exemplo, de acordo com pesquisa realizada pela
Federação do Comércio do Estado de São Paulo, a capital paulista gera mais
riqueza do que 22 estados norte-americanos (como, apenas para ilustrar, o Havaí
e New Hampshire). Quando comparada a outros Estados brasileiros, a
participação da cidade de São Paulo no PIB nacional em 2005 foi de 12,3% (37%
superior à contribuição de todo o Estado de Minas Gerais), ficando atrás apenas
do estado paulista. Caso a imaginássemos como um país na América Latina, a
cidade de São Paulo seria a quinta maior economia (empatada com o Chile e cinco
vezes superior ao Uruguai) e, em âmbito mundial, ocuparia a posição de 47a
maior economia, à frente de países como o Egito e o Kuwait. A cidade de São
Paulo está posicionada na 14a colocação do ranking de cidades globais criado pela Globalization and World
Cities Research Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino
Unido.
O tema das
cidades globais foi trabalhado na 8ª. série, no 4º. bimestre. É interessante
rever o conteúdo.
Em
uma grande cidade, tanto na escala local como na global, seus habitantes se
conectam com redes sociais de diversas escalas geográficas.
As classificações
das cidades globais levam em conta os aportes ideológicos e devem ser
compreendidas como uma forma de enxergar o mundo, e portanto, vistas de acordo
com os interesses de quem as propôs e considerando a escala que se quer
alcançar.
São quatro as
principais atividades sobre as quais cada cidade global mostra sua força: os
bancos e as bolsas de valores; as empresas de publicidade/marketing; as firmas de consultoria e seguros e; os
centros de pesquisa. De acordo com a classificação dos geógrafos da
Globalization and World Cities Research Network (GaWC), podemos atribuir, para
cada uma dessas atividades, uma nota de 1 a 3, dependendo da importância de
cada setor de atividade para o contexto do sistema capitalista mundial:
- Será
atribuída nota 3 às cidades globais em que o setor bancário tiver alcance
mundial;
- Será creditada
nota 2 às cidades em que algum desses serviços não tiver grande alcance
mundial e for restrito a apenas algumas áreas do globo;
-
Será estabelecida nota 1 às cidades em que os setores de serviços tenham
alcance apenas regional.
Caso uma cidade
global possua todos os quatro tipos de setores citados acima muito desenvolvidos,
somará a nota máxima de 12 pontos. Ao contrário, às grandes cidades que
possuírem apenas empresas dos quatro setores com alcance regional ou local será
atribuída a nota 1 para cada uma delas, e chegaremos à nota 4, estando,
portanto, na base da pirâmide das cidades globais. Todas as outras cidades que
não possuem empresas desses setores em seu meio urbano, ou que têm apenas um ou
outro dos setores desenvolvidos, não poderão ser consideradas cidades globais,
estando "fora" da rede de fluxos que hoje comanda as atividades
produtivas no mundo todo.
As
cidades globais podem ser divididas em três grupos principais, de acordo com
as notas recebidas: Alpha, Beta e Gama. Veja a tabela completa na página 27 do
caderno do aluno.
Para
entender o funcionamento atual da nova rede mundial de cidades globais e a hierarquia
dessas cidades, vejam a tabela “Classificação das cidades globais” abaixo e o
mapa “Mundo: cidades globais”, na página 28 do caderno do aluno.
No
primeiro grupo (as cidades do tipo Alpha),
não existe nenhuma delas situada nos países antes chamados de
"Terceiro Mundo". Todas elas (com excecão de Cingapura e Hong Kong)
estão nos países da chamada tríade do capitalismo mundial (Estados Unidos,
alguns países da Europa e Japão). O que isso significa? Entre outros aspectos,
significa que, se porventura um país do "Terceiro Mundo" precisar de
algum serviço, cuja prestação somente é realizada em uma dessas cidades globais
(como uma consultoria em finanças ou um empréstimo do Fundo Monetário
Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento etc.), será necessário
pagar grandes quantias em dinheiro, drenando para o centro do sistema
capitalista uma quantidade maior de recursos, o que aumentará ainda mais o
fosso (espaço, vala) entre os países.
Roterdã,
na Holanda, é uma cidade onde está localizado o maior e mais bem equipado porto
marítimo do mundo. Serve de entrada para boa parte do petróleo consumido por
todos os países europeus (além de um conjunto muito diversificado de tipos de commodities). Por que, então, Roterdã
não consta na lista de cidades globais? Justamente pelo fato de comandar um
tipo de fluxo ligado ao capitalismo comercial "tradicional", e não à
nova economia de serviços do capitalismo globalizado atual. Os fluxos materiais
(assim como a produção e a comercialização de mercadorias industriais) perderam
sua importância relativa, atualmente, para os fluxos imateriais, das finanças,
das informações etc.
Commodities são produtos com origem no setor primário
(agricultura ou minerais), que são comercializados nas bolsas de valores do
mundo todo. Exemplos: café, trigo, minério de ferro, petróleo etc.
Uma
"cidade global" não leva em conta o número de habitantes, mas sim a
sua capacidade de influenciar os acontecimentos mundiais, agregando serviços e
concentrando grandes fluxos de transporte e comunicações. Diferente de uma megacidade, que valoriza o aspecto
quantitativo, não importando em que tipo de país ou região a cidade se localiza,
referindo-se às maiores cidades do mundo, considerando-se o patamar mínimo de
10 milhões de habitantes.
A cada período
histórico, algumas regiões do mundo acabam por concentrar equipamentos
importantes para o domínio de outras regiões e, conseqüentemente, de outros
povos. Foi assim que Portugal, tendo desenvolvido as melhores técnicas de
navegação, ainda no final do século XV, fez de Lisboa a principal cidade no
período das Grandes Navegações. Londres, no século XIX, pode ser considerada
outro exemplo de cidade que passou a "capitanear" ou liderar o
desenvolvimento do mundo a seu favor. Graças às poderosas indústrias, às suas
muitas ferrovias e a uma poderosa marinha mercante, a Inglaterra, e, por
conseqüência, Londres, procurou colocar boa parte das matérias-primas do
planeta a serviço de suas indústrias. A cada período, portanto, muda o centro
do controle das regiões do planeta ou, melhor dizendo, altera-se a estrutura
geopolítica do mundo.
Situação De Aprendizagem 8
O terror e a guerra global
Quais
são as relações entre as disputas globais de poder e os conflitos resultantes
de embates de caráter étnico, religioso, além dos que sustentam a premissa de
uma ação terrorista baseada em choques civilizacionais?
Vocês
sabem sobre a atuação de redes terroristas, as áreas de atuação e os interesses
que as envolvem?
Há uma
diversidade temática e autoral de textos sobre o terrorismo e a guerra global.
No site Le Monde Diplomatique Brasil,
encontram-se disponíveis numerosos textos sobre terrorismo.
Frequente o site Clube Mundo, Geografia e Política
Internacional <http://www.clubemundo.com.br/>. Lá vocês
poderão ler, discutir e utilizar o roteiro para a leitura e a elaboração das
sínteses de textos. Recomendo, por exemplo, o trabalho com os seguintes textos:
- O "terror global" e a linguagem da
"guerra ao terror" e;
- Cultura do terror.
Vamos
trabalhar mais esse tema no caderno do aluno.
A globalização do crime
Nesse
último capítulo, vamos complementar os fluxos materiais no espaço global: os
fluxos de drogas e dinheiro ilícitos, tráfico de pessoas, corrupção, fabricação
e tráfico ilegal de armas, fazendo desses exemplos uma oportunidade para
destacar alguns fatores responsáveis pela ampliação das redes criminosas
globais e suas diferentes formas de atuação com o advento dos usos das
tecnologias da informação.
Quais são as ações adotadas no Brasil e no
mundo, na presente década, para combater o tráfico de drogas? Vocês acreditam
que o consumidor de drogas tem consciência de toda a violência embutida em seus
processos de financiamento, produção e comercialização?
Os fluxos das
drogas ilícitas ou narcotráfico
O mecanismo de
funcionamento do narcotráfico engloba várias regiões (e mesmo territórios
inteiros), que podem ser divididas em produtoras e consumidoras de drogas.
As regiões
dedicadas à produção das drogas estão situadas, em sua maioria, nos países em
desenvolvimento, por dois principais motivos:
1. A pobreza generalizada desses países, resultado
da posição que eles ocupam na divisão internacional do trabalho, acaba forçando
parte da população ao cultivo e ao beneficiamento das matérias-primas que darão
origem às drogas (papoula, coca, maconha etc.), já que os empregos lícitos são
escassos e de baixo rendimento. Às vezes, as ocupações ligadas às drogas apresentam-se
como única opção de renda para muitas pessoas em países deste grupo;
2. Nos países ainda mais pobres, de escassos
recursos financeiros, os grandes controladores do tráfico encontram terreno
fértil para influenciar os órgãos de repressão dessas atividades (a polícia, o
Exército, entre outras autoridades do Estado) a fazer "vista grossa"
para essas práticas ilegais.
Alguns dos efeitos
perversos ligados ao narcotráfico são:
- os usuários de drogas acabam
tendo menos tempo de vida, por sua saúde ser debilitada pelo consumo e;
-
a relação entre as atividades do narcotráfico com altos índices de violência e
de criminalidade.
Quem
acaba pagando o preço mais caro pelo envolvimento com os fluxos da droga são os
pequenos "passadores", que têm uma média de vida baixíssima, já que
estão na ponta mais perigosa do circuito.
Quem acaba ganhando com os fluxos do narcotráfico?
Em
primeiro lugar, estima-se que, anualmente, são movimentados mais de 400
bilhões de dólares com o comércio ilegal de drogas. Em segundo lugar, há também
interesses de outras atividades ilegais que acabam se aproveitando desse
circuito para praticar ações proibidas de natureza diversa: tráfico de material
radioativo, de órgãos humanos, de armas, sequestros, entre outras. Assim, as
máfias, entre as quais a italiana, a de Taiwan e a russa, que são as mais
atuantes, e os cartéis do tráfico (acordo efetuado entre grupos do tráfico
internacional de drogas), assim como outras organizações criminosas,
estruturaram-se para lucrar com esses fluxos globais.
Os
fluxos de dinheiro ilícito
Outro fenômeno
não menos importante, em conjunto com o avanço dos fluxos internacionais de
drogas (apesar de elas serem proibidas em todos os países) é a "lavagem de
dinheiro", que utiliza o sistema financeiro globalizado, diminuindo os
riscos do negócio e aumentando os lucros dos traficantes, mas também dos bancos
e agentes financeiros envolvidos.
"Lavagem de
dinheiro" se trata de um processo pelo qual o dinheiro obtido por meios
ilegais, como o dinheiro proveniente do narcotráfico, passa a ser legal. Os
traficantes contratam intermediários, que, por sua vez, subcontratam outras
pessoas para que realizem depósitos em suas contas de pequenas quantidades do
"dinheiro sujo", proveniente do narcotráfico (até 10 000 dólares).
Após investirem esses recursos em outras aplicações (em ações, letras de
câmbio), as pessoas subcontratadas devolvem as aplicações para os
intermediários, que, por sua vez, depositarão os montantes numa conta de banco
nacional ou num paraíso fiscal, lugar onde os controles sobre os depósitos não
são rigorosos.
"Paraíso
fiscal" designa os lugares (muitas vezes são pequenas ilhas) em que
enormes quantias de capital financeiro são depositadas. As altas taxas de
juros pagas e a falta de controle sobre pessoas e empresas que depositam essas
grandes quantias, permitem que os recursos obtidos em atividades criminosas
sejam depositados. As Ilhas Cayman, pertencentes ao Reino Unido e que estão
situadas no Mar do Caribe, são um exemplo.
Essas
estratégias são as mais conhecidas e permitem às organizações criminosas
globais "despistar" muitas vezes os agentes policiais que tentam
rastrear esses fluxos ilegais. Os grandes paraísos fiscais também se
beneficiam dessa situação, pois estão interessados apenas no lucro financeiro
e, na maioria das vezes, não se preocupam com a origem do dinheiro depositado
em seus bancos (são também clientes dos paraísos fiscais, as pessoas que
realizam contrabando vultosos de mercadorias e de armas, políticos e
empresários corruptos, além daquele de outras atividades ilícitas).