1as SERIES
SITUAÇÃO DE
APRENDIZAGEM 6
A GLOBALIZAÇÃO E AS
REDES GEOGRÁFICAS
O que você vê na PÁGINA 66, trata-se de um mapa que pode ser designado como uma representação ordenada. Ele faz uso da variável visual valor (diferentes tonalidades do marrom). Existe (e deve existir) uma correspondência direta entre a variável visual valor e o fenômeno representado. Quanto mais escura a tonalidade, maior a presença (a participação) do fenômeno representado.
É fácil perceber que países como EUA, Canadá,
Japão, Austrália e alguns da Europa Ocidental têm uma participação grande do
fenômeno representado.
No continente
africano, de maneira geral; no subcontinente indiano (Índia, Bangladesh etc.);
no continente sul-americano (Equador, Paraguai e Bolívia).
Na PÁGINA 67,abaixo, o Mapa forma
uma imagem única da geografia do fenômeno representado. Nota-se claramente onde
estão os países do mundo que têm maior participação de internautas no conjunto
da população. E onde essa participação é pequena. Percebe-se a grande
desigualdade e a lógica da distribuição do fenômeno, que também tem um padrão
que diferencia o Sul do Norte.
Sim, é possível
afirmar que o mundo está mais presente em cada lugar. Os usuários da internet
(indivíduos e instituições) superam, mediante esse meio de comunicação, as
fronteiras e as barreiras das escalas geográficas mais restritas. Desse modo,
integram-se grupos humanos e negócios em uma escala mais ampla, a chamada
escala global. Mas, em termos geográficos, esse fato ocorre de maneira
desigual, como o mapa dos usuários demonstra.
Porque não são as
medidas territoriais que estão sendo utilizadas, e sim a medida de posse de
computadores pessoais, ou seja, quanto mais volume de posse, maior a extensão
do país no mapa, o que vai interferir na extensão dos blocos continentais.
O continente africano
e a América do Sul estão com suas extensões diminuídas de forma bem evidente.
Os EUA (na América do
Norte) estão com sua extensão ampliada em relação às medidas originais do seu
terreno, do mesmo modo que o Japão e vários países da Europa Ocidental.
Com sua extensão
diminuída (de modo geral) em comparação com um mapa territorial. Isso em razão
da medida escolhida para a realização do mapa, que é a posse de computadores
pessoais. Como, de modo geral, essa posse não é muito expressiva, a representação
visual também não o é. No entanto, quando houver dados para atualizar esse
mapa, certamente a América do Sul terá um crescimento cartográfico, graças ao
aumento do acesso aos computadores pessoais.
No mapa ordenado
(“Internautas, 2005”, acompanhado do gráfico “Evolução do número de
internautas, 1991-2006”) apresentado anteriormente, a situação dos EUA
encontra-se na faixa de 87,7 internautas em cada 100 habitantes, enquanto a
África continental tem a maioria dos países com 0,19 internauta em um grupo de
100 habitantes. Não chega a um computador. Na anamorfose, os EUA ficam imensos
enquanto o continente africano quase desaparece.
O Brasil aparece em
uma situação intermediária em ambos os mapas, tanto que, na anamorfose, ele não
é tão diminuído. Ainda assim, no país, a posse de computadores e o acesso a
internet não são largamente disseminados.
Pelo mapa
“Internautas, 1991-2006” é possível perceber que a maioria dos países
desenvolvidos – como aqueles da Europa Ocidental, os EUA, o Japão e a Austrália
– apresenta as maiores incidências de internautas no mundo. Esses países
apresentam melhor estrutura de comunicação e uma população com maior poder
aquisitivo; consequentemente, mais acesso a equipamentos e serviços.
Sem dúvida. Embora as
ligações e as linhas sejam múltiplas quanto às suas tecnologias (rede
telefônica, rádio e redes de cabo de televisão), podemos imaginar linhas e
pontos que são áreas comuns, cujo acesso é geral. É, claramente, uma rede.
Sim, isso é nítido. As
redes de transportes urbanos oferecem bons exemplos. No caso dos ônibus, temos
as linhas com vários pontos de paradas e pontos finais. A esses pontos finais
podem estar articuladas outras linhas de ônibus que têm diversos outros pontos.
No final, a ideia é que essas redes cubram boa parte do território de uma
cidade. O mesmo pode ser dito das redes ferroviárias (metrô, trens de
superfície etc.).
A internet é um meio de informação e de
comunicação (áreas de interação, de troca de mensagens etc.). A circulação das
mensagens se dá instantaneamente. Desse modo, uma mensagem emitida agora no
Brasil será acessada quase ao mesmo tempo no Japão. Isso muda de forma
revolucionária a velocidade das relações humanas, algo inimaginável no começo
do século XX, por exemplo, embora, naquela época, já existisse uma rede
telegráfica mundial eficiente.
Na internet circulam
informações. Mas dizer isso é muito pouco. Na verdade seria melhor se referir a
materiais digitais. Um livro pode ser digitalizado (transformado em informação
eletrônica) e circular na internet. As imagens e os sons também podem ser
digitalizados. Quer dizer: uma gama enorme de informações é matéria-prima
essencial da internet. Essas informações são, sem dúvida, importantes. Estão
mudando a face da humanidade. Não apenas porque têm valor econômico (não há
hipótese de empresas de qualquer porte ficaram distantes da rede para divulgar
suas atividades e até comercializar seus produtos e serviços), mas porque têm
mudado a face da economia. Muitos bens que antes só eram acessíveis por transação
econômica, atualmente são acessíveis por “compartilhamento” de materiais
digitais, uma transação não econômica. Muitas mudanças em andamento ainda estão
por ser entendidas.
Não resta dúvida.
Muito do poderio e do desenvolvimento econômico passa pelo acesso e pela
capacidade de expandir esse acesso à rede a públicos mais amplos. Mas, também,
muito do poderio que pode fazer frente às forças econômicas tradicionais se
organizam e se fortalecem na rede mundial de computadores.
Está claro que os
benefícios às relações humanas trazidos pela diminuição das distâncias se
concretizam com o acesso aos meios de comunicação e transportes contemporâneos.
E isso ainda está longe de estar democratizado e, certamente, um “mundo melhor”
passa por essa democratização. Não há dúvida de que a internet é um dos
ingredientes desse processo de encurtamento das distâncias e do horizonte
interativo mais digno para o ser humano.
Nessa exposição necessariamente pessoal do
aluno, espera-se (e para isso ele deve ser orientado – antes ou depois conforme
sua avaliação) que ele consiga integrar o conjunto de informações e raciocínios
desenvolvidos na Situação de Aprendizagem para aumentar a sua percepção de um
mundo cujas relações são cada vez mais interescalares. Isso quer dizer que
nossas realidades locais estão influenciadas e articuladas a relações de outras
escalas, até mesmo a mundial. O mundo nunca esteve tão presente em nossa vida.
O importante é estimular o aluno a usar recursos próprios que se manifestem em
seu cotidiano na argumentação. A ideia é que ele aplique de modo próprio o que
foi desenvolvido até aqui e não repita mecanicamente os raciocínios e as
informações contidas na Situação de Aprendizagem.
Tem que buscar na
memória e na vida cotidiana os diversos termos utilizados para se referir às
grandes instituições econômicas privadas. O objetivo é que se chegue ao termo
multinacional, largamente utilizado, e deparem com outro termo bastante
utilizado atualmente: transnacional. Agora as multinacionais estão sendo
chamadas de corporações transnacionais. Empresa não é muito diferente de
corporação. Esse último termo está na moda. Agora se fala em mundo corporativo.
Talvez, possa se admitir que corporação revele mais o que é uma empresa moderna
e poderosa. Não mais pertencente a um empresário, mas a uma corporação de
acionistas. Por sua vez, os prefixos multi- e trans- realmente têm significados
diferentes: multinacional. Aquilo que está em vários países; transnacional.
Aquilo cuja natureza está acima dos países. Tanto empresa multinacional como
corporação transnacional são termos que expressam algo que é mais poderoso que
uma empresa nacional. Essa última possui uma área de atuação menor e mais
restrita (um mercado único).
Elas aparecem como
agentes de grande importância na estruturação desse processo de criação e
ampliação da escala global, que se convencionou denominar globalização.
Aparecem, até mesmo, como criadoras de configurações espaciais em rede geográfica,
que são malhas globais, ou seja, os espaços da globalização.
Elas aparecem no
quadro como agentes importantes da globalização, além de funcionar como
estruturadoras e controladoras de configurações espaciais que podemos chamar de
espaços globais e/ou mundiais (nem todos os espaços têm essa condição). Com sua
capacidade de criar redes geográficas, de influenciar diversas realidades
nacionais, sua atuação se estende ao mundo. O mundo é sua referência, e, quando
o mundo passa a ser a referência de atuação para agentes desse peso, estamos
diante de algo que está estruturando a denominada globalização.
Não são os espaços
nacionais em si. São pontos de redes geográficas que se organizam em escala
mundial e se encontram nos territórios nacionais, mas que se relacionam mais
intensamente com outros pontos da rede do que com os territórios nos quais
estão inseridos.
O geógrafo Milton
Santos está mencionando a importância que tem para uma corporação transnacional
a velocidade da circulação de informação e de bens. Afinal, elas atuam na
escala mundial, e para elas o mundo é (e precisa ser) pequeno, com as
distâncias encurtadas. Para atingir tal objetivo essas empresas atuam no
sentido de preparar os pontos de rede com o máximo de tecnologia para acelerar
as relações. Atuam nos Estados nacionais e estes, com o objetivo de atrair tais
empresas, terminam investindo nessa instrumentalização dos pontos de rede nos
territórios nacionais.
As setas no mapa da PAGINA 72 do caderno indicam os
fluxos e suas direções.
Como as setas têm
cores diferentes, elas indicam fluxos de tipos diferentes. A relação é direta:
cores diferentes. Fluxos diferentes.
Esse mapa pode ser
caracterizado como um mapa qualitativo de fluxos, isso porque ele representa
fluxos diferenciados (de objetos diferentes). Mapas que diferenciam os
fenômenos representados são mapas qualitativos.
Estamos diante de uma
rede geográfica de uma empresa transnacional que atua no ramo automobilístico.
Distribuído em sua rede, encontra-se o seu sistema produtivo, que se organiza
em vários países do Sudeste Asiático. Cada ponto de rede é especializado, e
nenhum constrói os automóveis integralmente. Na verdade, os pontos se
complementam, embora eles se encontrem em diversos países.
A palavra “montadora”
designa as estratégias produtivas de várias corporações industriais
transnacionais. Organizadas em rede, cujos pontos são especializados, em algum
momento o produto final deve aparecer, deve ser montado. Um dos pontos da rede
especializa-se na montagem reunindo os componentes vindos de vários pontos da
rede geográfica.
A filial montadora, o
ponto de rede responsável pela montagem, complementa o processo produtivo. Nem
sempre a produção das peças se dá apenas por unidades da empresa
automobilística. Muitos dos elementos são terceirizados. No Brasil existem de
fato muitas empresas automobilísticas que aqui instalaram unidades responsáveis
pela montagem de componentes que se originam de várias partes de sua rede e
também de produtores terceiros.
Fica bem claro. Ela é
uma transnacional, pois usa um conjunto de Estados nacionais para instalar
unidades de sua rede geográfica. Esse é o seu verdadeiro espaço. Qual é a
nacionalidade de uma empresa transnacional cuja sede geográfica é sua rede
espacial? De fato, muitas dessas empresas já têm interesses e ações que
ultrapassam qualquer identidade de caráter nacional. São empresas
transnacionais.
Essa pesquisa
apresenta um grau de dificuldade médio. A primeira dificuldade a ser superada é
a do acesso a internet – e, no caso dessa pesquisa proposta, não há como
substituir a fonte. O próximo passo é chegar a um site adequado. A sugestão é
listar os nomes das grandes transnacionais automobilísticas. Não são muitas, e
todos os alunos devem conhecê-las, pois, na pior das hipóteses, conhecem marcas
(ou modelos) de automóveis. Depois se deve escolher uma empresa e procurar seu
site utilizando qualquer buscador. Navegando na página da empresa, não será
difícil desvendar sua estrutura geográfica. Para tanto, é preciso ficar atento
às seguintes informações:
• em quais países há
unidades da empresa;
• que atividades essas
unidades desenvolvem (ficar atento, especialmente, à distinção entre produtoras
de peças e montagem);
• informações
complementares (se houver), como volumes produzidos, valores etc.
Com isso já será
possível produzir o mapa. O valor dessa atividade está em exercitar a
construção autônoma dos conhecimentos. Os alunos vão recorrer a uma fonte
confiável, embora não seja a única. Vão levantar e organizar informações por
meio de uma linguagem que permite a visualização espacial da estrutura de uma
empresa, de uma instituição construtora da escala mundial. Mesmo que os
resultados não sejam totalmente precisos, que haja dificuldades de confecção do
mapa, o mais importante e valioso é a criação dessa “narrativa visual”.
Chegando a algo próprio será uma conquista mais importante do que reproduções
corretas de informações padronizadas e estereotipadas que circulam na Geografia
escolar.
Um condomínio fechado
residencial, como o próprio nome diz, é uma forma coletiva de residência
(várias casas ou apartamentos) que se instala em um terreno protegido, cercado
e vigiado. Desse modo, fica isolado geograficamente do seu entorno. Os
moradores desse tipo de residência em geral utilizam automóveis para se
locomover, o que os isola ainda mais do bairro onde está instalado o
condomínio. Para seu abastecimento, frequentam áreas igualmente fechadas.
Assim, é bom guardar essa imagem de isolamento, de afastamento dos bairros onde
estão localizados.
Um shopping Center
pode ser designado um condomínio fechado comercial. É uma área coletiva, com
vários estabelecimentos comerciais e de serviços que se instala em um terreno
protegido, cercado e vigiado. Também se isola espacialmente do seu entorno. Não
há shopping que não possua imensos estacionamentos, pois seus principais
frequentadores são proprietários de carro e, portanto, quase não usam
transportes coletivos. Do mesmo modo, há aqui a imagem de isolamento, de
afastamento dos bairros onde estão localizados (uma parte dos shoppings procura
se situar próximos de vias expressas, ainda que nem sempre isso seja possível).
Na escala de uma cidade (no interior dela),
podem ser encontradas redes geográficas de fato. Os núcleos formados por
condomínios fechados e por shopping centers (também centros empresariais
diversos), que se encontram tanto na área densa como nas zonas periféricas, são
os pontos de rede. As linhas são as vias cada vez mais preparadas para o uso
automobilístico intenso. Uma cidade como São Paulo tem, de fato, redes
geográficas cortando seu espaço.
Certamente, uma
característica das redes geográficas – tanto na escala mundial, como a de uma
corporação transnacional, quanto no interior de uma cidade – é a de possuírem
características de “negação” dos territórios do entorno. São fechadas,
relacionando-se o mínimo necessário com esse entorno.
Os dados mostram o
volume de circulação econômica no interior das redes das corporações, e
qualquer pesquisa mostraria algo semelhante na circulação econômica no interior
de uma rede geográfica no interior de uma cidade como São Paulo, por exemplo.
Significa, por vezes,
até o contrário. As redes no interior das cidades costumam desagregar e
enfraquecer o comércio de rua e também é comum a desvalorização dos imóveis em
razão do aumento do trânsito, do volume grande de áreas de estacionamento etc.
Do mesmo modo, uma rede de corporação não apresenta automaticamente efeitos
multiplicadores nas localidades onde se situam. O dado econômico mostra que não
é nessas localidades que ela vai realizar grandes investimentos.
Faz sentido. Por vezes nega esses territórios
(dos bairros, dos países onde estão situadas) e se transforma de fato em um
concorrente, como no caso citado do shopping.
Organizam-se em redes
mundiais, o que fica claro logo no item 1 do texto. Os dados econômicos,
presentes em vários itens, definem o perfil das transnacionais e comprovam essa
maneira pela qual se organizam. São montantes impossíveis de se obter na escala
nacional, mas somente possíveis graças à atuação transnacional dessas
organizações. A sua força é tão grande que chega a influenciar governos, que
facilitam a ação dessas corporações em seu território.
Elas são atores muito importantes na cena
internacional e na cena nacional de vários países. Por exemplo: muitos governos
nacionais implementam políticas econômicas visando atrair os capitais das
corporações transnacionais para seus territórios. Fazem isso promovendo isenções
fiscais (não cobram impostos), oferecendo terrenos, ajudas de infraestrutura
(energia mais barata, por exemplo). Desse modo, uma corporação transnacional ao
se instalar em um país passa a ter muito poder de influência sobre os governos.
O volume de pessoas empregadas nas empresas
transnacionais é bem grande (54 milhões) e corresponde à população de países
importantes. Considerando que as transnacionais utilizam muita tecnologia em
seus processos produtivos, e que essas tecnologias dispensam mão de obra, dá
para ter ideia do que são os volumes de produção e serviços gerados diretamente
pelas corporações.
Na alternativa c do
caderno do aluno mostra que o Brasil tem promovido, mais propriamente os
Estados, uma série de políticas de incentivos fiscais para atrair corporações
transnacionais de vários ramos industriais. Um caso marcante é o das
automobilísticas que se espalharam por Estados sem tradição industrial, como
Goiás, por exemplo. Assim, ao contrário das alternativas que indicam dificuldades
para ações das corporações transnacionais no Brasil, o país é um bom espaço
para a ação dessas instituições.