3AS SERIES
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5
CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?
A ideia de “choque de
civilizações” foi frequentemente retomada para explicar os conflitos entre
Ocidente e Oriente. Ainda em 1964, Bernard Lewis, um professor universitário
britânico pouco conhecido, lançou a expressão que ficaria famosa. Se, por um
lado, esta passou despercebida durante a década de 1960, por outro, foi
relançada por ele 25 anos depois na forma de um artigo, The roots of muslim
rage (“As raízes da cólera muçulmana”).
O contexto geopolítico
em que surgiu e seu significado: o postulado de Samuel P. Huntington na obra
“Choque de Civilizações” indicadas constitui um esforço de compreensão do mundo
e do novo quadro das relações internacionais emergente da implosão soviética,
depois que as tensões políticas da velha ordem bipolar deixaram de subordinar
um ou outro bloco ideológico.
Desde o fim da Guerra
Fria, a maioria das guerras ocorre entre povos de civilizações diferentes (por
exemplo, no conflito Israel-Palestina, as Guerras do Golfo, na desintegração da
antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia, a instabilidade na
Caxemira, na luta pela independência na Chechênia ou mesmo na atual presença
anglo-americana no Iraque).
“Os aviões que
destruíram as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, e
a marcha das tropas estadunidenses sobre Bagdá refletem tragicamente esse
estranhamento e introduzem, na política mundial, o espectro do ‘choque de
civilizações’”
O significado do
sentimento de estranhamento nesse caso é o de aversão a alguém ou a algo que
não se conhece, ou seja, os atentados e a invasão ao Iraque induzem à ideia de
que o Ocidente e o Oriente apresentam diferenças culturais intransponíveis, o
que não é de todo verdadeiro. Por isso, os autores enfatizam a ideia de espectro,
palavra que tem o significado de fantasma ou ilusão do “choque de
civilizações”.
A estreita relação
entre os atentados de 11 de setembro de 2001 e os protestos desencadeados por
jovens imigrantes ocorridos na França em 2005, quando jovens imigrantes depredaram
espaços públicos como forma de protesto às condições sociais degradantes nas
periferias de Paris, foram em princípio relacionados diretamente como expressão
do “choque de civilizações”, pois grande parte das populações que habitam as
periferias de Paris é do Oriente. Porém, os protestos tiveram um significado
político, questionador da exclusão social e do neoliberalismo intolerante.
Em relação as nove
civilizações propostas por Samuel Huntington, reconhece-se as implicações
culturais e geopolíticas decorrentes do período em que o autor as propôs.
Devemos também reconhecer que, após a desintegração da URSS, as tensões
políticas da velha ordem mundial deixaram de se subordinar aos blocos
ideológicos que as sustentavam. O modelo baseado em civilizações proposto por
Huntington identifica qual é a importância das culturas locais quanto ao seu
poder de estabelecer alianças ou provocar choques no mundo contemporâneo. Vale
lembrar que a teoria civilizacional de Huntington foi apresentada inicialmente
em 1993, num artigo de grande impacto publicado na revista Foreign Affairs
(EUA). Foi editado e transformado em livro em 1996, estendendo sua perspectiva
de análise em razão dos inúmeros debates que o sucederam. Porém, após os
ataques terroristas de 11 de setembro, muitos tentaram explicar o ocorrido com
base nesse pensamento. Análises realizadas por diferentes correntes da
comunidade de especialistas em relações internacionais mostraram-se divididas,
apontando críticas quanto ao caráter maniqueísta (Maniqueísmo é uma filosofiareligiosa
que tende a fundir numa ou várias doutrinas diferentes, mantendo traços de sua
origem. e dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo.
A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a
popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina
fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal) e sectário (aquele que defende obstinadamente
um ponto de vista extremado ou posições políticas, religiosas ou teóricas
intransigentes e polarizadas) dessa forma de regionalização.
Entre inúmeras
possibilidades, dos interesses podemos citar a de convencer a população
norte-americana da necessidade da invasão aos países do Oriente Médio que,
conforme o governo dos Estados Unidos, dão suporte ao terrorismo; interesses
com relação ao petróleo, fonte de energia ainda vital para a economia dos
Estados Unidos; e fortalecimento da política de combate ao “eixo do mal” que,
de acordo com a doutrina Bush, investe na tecnologia de fabricação de bombas
atômicas.
Em relação aos interesses que os países do
Ocidente teriam no Oriente Médio, Edward Said enfatiza o princípio da dominação
global considerando interesses de hegemonia e econômicos atrelados, por
exemplo, a reservas de petróleo.
O sociólogo Michael
Mann argumenta que o Partido Republicano, do ex-presidente George W. Bush,
iniciou em 1970 uma estratégia política alicerçada na nova direita
norte-americana, por meio da qual se cristalizou a ideia de um império
norte-americano em escala mundial. Assim, a posição norte-americana com relação
a temas de alcance mundial – como Protocolo de Kyoto, minas terrestres, Guerras
nas Estrelas, Iraque e Irã – não é ocasional e isolada, mas parte de uma
política de poder unilateral, posição solitária que desconsidera acordos de
caráter multilateral.
Os argumentos
apresentados por Michael Mann são contrários à tese de “choque de
civilizações”. Para Mann, o governo de George W. Bush, representante da nova
direita norte-americana, comportou-se de forma isolacionista, o que incita
reações em diversas partes do mundo.
A eleição de Barack
Obama representou uma mudança no perfil da política externa dos Estados Unidos
ao romper com os preceitos da nova direita do Partido Republicano, defensora de
ações unilaterais e maniqueístas. Certas atitudes tomadas pelo governo – como a
de propor o fechamento da Base de Guantánamo, em Cuba, a defesa do direito ao
Estado palestino e a retirada progressiva das tropas norte-americanas no Iraque
– são exemplos contundentes dessas mudanças.
Em relação ao Choque
de Civilizações o autor considera conflitos entre as diferentes civilizações e
também internos às civilizações. Isso explica o predomínio de conflitos na
civilização islâmica e sua menor ocorrência na latino-americana.
A expressão “choque de
civilizações” adquiriu grande repercussão no contexto de incertezas da nova
ordem mundial, logo após o fim da Guerra Fria (1947-1989). Nesse período, o
mundo se deparou com a eclosão de conflitos isolados, motivados por rivalidades
étnico-religiosas e culturais, contidos em sua grande maioria por regimes
totalitários, como na ex-União Soviética e na antiga Iugoslávia. Em particular,
essa “chave” de interpretação do novo quadro das relações internacionais
emergentes da implosão soviética adquiriu grande notoriedade com a publicação
da obra do estrategista norte-americano Samuel P. Huntington, em 1996. Ele
defende que o futuro da humanidade poderá ser determinado pelo confronto entre
diferentes civilizações a partir da adesão a religiões e características
culturais comuns.
A teoria do “choque de
civilizações” possui limitações quando contraposta à realidade geopolítica
mundial, expressando uma visão reducionista diante das verdadeiras causas de
muitos conflitos em curso. Podemos argumentar, por exemplo, que outros especialistas
não concordam com a tese de Huntington (Edward Said, Noam Chomsky, John
Espósito, entre outros), pois vinculam os conflitos à imposição de um modelo
geopolítico e econômico controlado pelos países ricos e suas corporações
(disputa por recursos vitais, como o petróleo). De forma complementar, com base
nos mesmos autores, ainda poderemos argumentar como essa visão de mundo
favorece a disseminação de uma imagem deturpada do islamismo, associando-o, de
maneira equivocada e simplista, ao fundamentalismo religioso, além de
desconsiderar as mudanças a que estão expostas as diferentes culturas diante
dos fluxos de informação e de pessoas no contexto da globalização.
Em relação as
alternativas da pagina 62. A alternativa
(a) mostra que anualmente
apenas três civilizações possuem
membros permanentes no
Conselho de Segurança. A alternativa c é incorreta, pois,
com base na classificação de Huntington, três civilizações estão representadas
no Conselho de Segurança da ONU: a ocidental (EUA, França e Inglaterra), a
sínica (China) e a ortodoxa (Rússia). A alternativa b também é incorreta, pois
o poder no Conselho de Segurança está concentrado em apenas um terço das
civilizações citadas pelo autor. Pelo menos três continentes estão
representados no Conselho de Segurança (América, Europa e Ásia), invalidando,
portanto, a alternativa d. A alternativa e é incorreta porque o poder no
Conselho de Segurança é concentrado: não só a civilização africana, mas também
a latino-americana, a budista, a japonesa, a hindu e a islâmica não têm
representação nesse Conselho.