3ª. série
OS FLUXOS MATERIAIS
sit de aprendizagem 5 – vol 2
Este capítulo, em particular, após apresentar e
discutir os principais tipos defluxos da globalização (materiais e
imateriais), cujo meio geográfico é o técnico-científico-informacional, abordará
o comércio internacional de mercadorias como um dos principais fluxos
materiais, enfatizando algumas causas de seu incremento no atual período histórico.
Para dar início ao desenvolvimento das noções de rede
e fluxo, relacionando-as,
em geral, ao processo de globalização e, em particular, ao sistema de transportes
e ao comércio internacional de mercadorias, vamos usar dois exemplos
significativos de fluxos materiais: uma leitura cartográfica acrescida de um
pequeno texto. O mapa tem por objetivo compreender como os fluxos de
transportes influem diretamente nos processos de distribuição de mercadorias,
característica marcante da globalização, e o texto reforçará os conceitos de
redes e fluxos de transportes.
A modernização do sistema de transporte pode
agilizar a distribuição de mercadorias e contribuir para a diminuição dos
custos finais de produção. A ampliação da capacidade de carga dos navios é
responsável por facilitar o transporte e baratear custos: a modernização nas
formas de armazenamento para transportes com o uso de contêineres evitam perdas
e a ampliação da velocidade diminui o tempo de distribuição das mercadorias.
Os fluxos materiais são aqueles representados
por objetos que possuem materialidade e volume e, portanto, compõem uma imensa
gama de sistemas de infraestrutura e de mercadorias. Já os fluxos imateriais
são aqueles disseminados pelos meios de comunicação e informação, como a
internet e a telefonia, e que influem em nossas vidas, alteram a nossa economia,
mas que não são palpáveis e, portanto, não têm materialidade.
Na atualidade,
há uma relação de interdependência entre os fluxos materiais e imateriais. Se,
por um lado, toda a infraestrutura dos setores de comunicação e informação
compõe-se de uma base material, que compreende satélites, fiações, cabos
submarinos etc., por outro, o que por elas é disponibilizado resulta em fluxos
imateriais e que são utilizados pelas mesmas empresas responsáveis por fabricar
todas essas tecnologias.
A
rede bancária funciona interconectada e há uma infindável gama de transações
financeiras realizadas por essas instituições. As bolsas de valores do mundo
inteiro operam em conexão e influem na economia dos mais diferentes países.
Também todo o setor do e-commerce (comércio via internet) só existe
em função de ser disponibilizado on-line. Esses são exemplos
econômicos. Porém há uma variedade de transações que ocorrem por meio do fluxo
imaterial que não podem ser consideradas econômicas, mas sim, culturais. Este
é o caso dos contatos por email, das relações que se estabelecem no Orkut
ou Facebook, das transações de músicas em mp3, de filmes no YouTube etc.
Leitura e interpretação de mapa temático e texto
Apresentado os conceitos dos fluxos materiais e
imateriais e o entendimento do funcionamento da rede de transportes, vamos
analisar o mapa “Comércio mundial de mercadorias, 2004”, na página 12 do
caderno do aluno, relacionando-o à intensificação dos fluxos vigentes no
processo de globalização em curso. As mudanças tecnológicas
importantes têm ocorrido de maneira cada vez mais acelerada nas últimas
décadas.
A superfície dos círculos e a espessura das
setas nele contidos retratam a maior participação de algumas regiões do mundo,
em porcentagem, no comércio ou fluxo internacional de mercadorias.
O meio geográfico é cada vez mais impregnado de
técnica, ciência e informação, o que nos permite falar na formação de um meio
técnico-científico-informacional neste período histórico da globalização,
conforme os pressupostos defendidos pelo geógrafo Milton Santos. O meio
técnico-científico-informacional constitui o meio geográfico característico do
atual período histórico e, como o próprio nome indica, é composto de sistemas
de objetos (estradas, aeroportos, fábricas, redes de internet) altamente
modernizados, que permitem uma grande fluidez ou mobilidade aos produtos
e aos fluxos de informação das grandes corporações transnacionais.
Para ilustrar, vamos ler o texto “O espaço
geográfico como sistema técnico”, nas páginas 5 até 8 do caderno do aluno e
analisar a tabela “Fluxos do meio técnico-científico-informacional”, na
página 10. O comércio ou fluxo internacional de mercadorias
constitui apenas um tipo de fluxo material. O aumento da quantidade de dólares
envolvida nas exportações, que podemos observar na tabela “Evolução das
exportações de mercadorias – em bilhões de dólares”, na página 11 do caderno do
aluno, fornece uma idéia precisa do que significou para o comércio
internacional o período da globalização.
Agora, observando a tabela “Exportação de
mercadorias”, na mesma página, identificamos o aumento da exportação de
mercadorias em quase todas as regiões do mundo entre 1993 e 2007. A participação
de algumas mercadorias, em porcentagem, auxiliou no comércio e no fluxo
internacional de mercadorias (Europa, Ásia e Oceania e América do Norte).
A comparação entre o que está representado no
mapa e a tabela “Exportação de mercadorias” assinala o expressivo destaque dos
países situados na média latitude (Europa, Ásia e Oceania, América do Norte),
em contraposição aos da baixa latitude (trópicos) e dos de alta latitude
(subpolares). Há inúmeras explicações para isso: a desigual distribuição dos
recursos naturais, a história, a organização dos modos de produção etc.
Cabe à Geografia, pesquisar e interpretar esse
padrão de produção e distribuição de mercadorias ao nível mundial. Quais teriam
sido as causas do aumento extraordinário de fluxos comerciais e por que apenas
algumas regiões do planeta se destacam quando o assunto é comércio
internacional?
O aumento na demanda em todos os países por todo tipo de produto
No período
técnico-científico-informacional em curso, ocorreu um expressivo aumento
populacional - de 2,5 bilhões de habitantes, em 1950, o mundo passou a contar
com 6,1 bilhões em 2000 e 6,8 bilhões em 2009. Em parte, o acréscimo de mais de
4 bilhões de pessoas no mundo, durante esses 59 anos, explica o aumento do
comércio internacional. Contudo, é importante salientar que, além do
crescimento da população mundial, houve também, em algumas regiões do mundo,
uma melhoria da qualidade de vida, principalmente nos países do centro da
economia capitalista: Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental e
Japão, além de um incremento do consumo em todos os níveis. A expansão do meio
técnico-científico-informacional permitiu que essas regiões se industrializassem
ainda mais e diversificassem a sua produção, propiciando o assalariamento da
maioria da população e, em consequência, a sua entrada no consumo de massa.
Além das diferentes características naturais (presença ou não de petróleo,
minerais etc.) e diferentes tipos de sistemas produtivos, visto que algumas
regiões são essencialmente agrícolas, outras mais industriais e outras especializadas
no setor de serviços, há uma tendência para que se ampliem as trocas comerciais
entre essas regiões, pela diminuição dos custos dos transportes.
Em princípio, a complementaridade entre as
regiões (cada uma exporta aquilo que produz em excesso e importa o que não
produz ou o que não produz o suficiente) cria uma interdependência entre elas,
típica da atual fase da globalização. Essa interdependência não é neutra, isto
é, como, no mundo capitalista, as trocas comerciais acabam sempre favorecendo
um conjunto de certas regiões em detrimento (prejuízo) de outras. Desse modo,
tais desigualdades são resultantes da divisão internacional do trabalho, porque
certas regiões, com sistema produtivo mais moderno, conseguem exportar
produtos com maior valor agregado, forçando as regiões menos
modernizadas (principalmente os países em desenvolvimento) a produzir apenas
alguns tipos de mercadorias, em especial aqueles de origem agrícola ou mineral.
Ao produzirem somente bens do setor primário (carvão, petróleo, minerais e
produtos agrícolas), cujos preços no mercado internacional, no geral, têm
declinado, essas regiões são forçadas a aumentar a produção e a venda desses
produtos para poder adquirir mercadorias mais modernas, como aviões,
computadores e aparelhos eletrônicos.
Valor agregado corresponde à quantidade de
trabalho realizado na fabricação de um produto. Quanto mais tecnologia e
conhecimento aplicado forem necessários para produzir a mercadoria, maior será
seu valor agregado.
A melhoria e a queda dos custos dos sistemas de transporte
Apesar dos avanços das tecnologias da aviação e
dos transportes terrestres, grande parte das trocas comerciais internacionais,
em termos de valores (dólares) negociados, é realizada até hoje por via
marítima. Aliás, hoje, cada um dos grandes navios transatlânticos consegue
transportar muitas toneladas a mais do que conseguia transportar num navio
"moderno" no início do século XX. Uma segunda melhora importante nos
sistemas de transporte diz respeito à forma de acondicionamento das
mercadorias. A técnica de transporte em contêineres permite colocar e transportar
as mercadorias em caixas metálicas, resultando em vários benefícios, como
impedir que não haja rupturas no processo de transporte, facilita e agiliza o
embarque, o desembarque e o transbordo dos produtos e diminui as possibilidades
de acidentes e de perda das mercadorias desde as fábricas onde são produzidas
até os estabelecimentos comerciais onde serão vendidas. Além disso, a maior
integração entre os diferentes tipos de transporte permitiu criar sistemas
modais, por meio dos quais ocorreram barateamento e agilidade em todos os
processos, desde a coleta até a distribuição e o armazenamento das mercadorias.
A informatização do setor de transportes foi responsável por sua modernização e
a logística de abastecimento, aliada às vendas on-line, ampliou a
capacidade de entrega e distribuição das mercadorias.
Liberalização das regras comerciais que regulam as trocas
A difusão do
meio técnico-científico-informacional permitiu às grandes empresas
transnacionais ampliarem de forma significativa o seu poder na globalização,
com reflexos também nas trocas mundiais comerciais. Por exemplo, em 1947 foi
assinado o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (em inglês, General
Agreement on Tariffs and Trade - Gatt), que tinha como principal
proponente os Estados Unidos, e visava à gradual diminuição das tarifas
aduaneiras comerciais das nações. A expressão "tarifas aduaneiras"
refere-se à carga de impostos pagos pelo país exportador para que suas
mercadorias possam ser comercializadas no país receptor, uma das principais
formas de que dispõe uma nação para proteger o seu sistema produtivo. Os países
detentores de um meio técnico-científico-informacional mais desenvolvido, como,
por exemplo, Estados Unidos, Alemanha e Japão, sedes de grandes corporações
transnacionais, conseguem produzir mercadorias em maior quantidade e por preços
menores. Esses países aliam-se na defesa pela diminuição das tarifas alfandegárias,
com vistas a ampliar seus mercados em países em desenvolvimento. Desse modo,
seus produtos invadem essas nações, dificultando, muitas vezes, a situação de
indústrias locais, que, não tendo a mesma facilidade de acesso à tecnologia,
não conseguem fazer frente aos preços praticados pelas empresas transnacionais.