TEXTO DE APOIO - GEOGRAFIA – 2ª SÉRIE – SIT DE APRENDIZAGEM 01
GEOGRAFIA – 2ª SÉRIE – SIT DE APRENDIZAGEM 01
O Brasil, enquanto País e com essa dimensão territorial, nem sempre
existiu, pois suas atuais fronteiras são resultantes da Geopolítica Portuguesa
e das Frentes de Expansão como: A Atividade Pecuária (extensiva) ocorrida a
partir do Nordeste (séc. XVI...), as Drogas do Sertão na Amazônia (séc. XVI...)
e as Bandeiras e Entradas a partir do Sudeste Brasileiro (séc. XVI e XVIII).
Conceitos Básicos:
- Território refere-se a superfície terrestre de um Estado, delimitado por
fronteiras, seja ele soberano ou não. De acordo com as teorias gerais de
Estado, diplomacia, relações internacionais e nacionalidade, o território é uma
das condições para a existência e o reconhecimento de um país (sendo os outros
dois a nação e o Estado).
- Região pode ser qualquer área geográfica que forme uma unidade distinta em
virtude de determinadas características. Em termos gerais, costumam, mas não
necessariamente, ser menores que um país - Estado é uma instituição organizada
política, social e juridicamente ocupando um território definido, normalmente
onde a lei máxima é uma Constituição escrita, e dirigida por um governo, também
possuindo soberania reconhecida internamente e externamente.
- País de uma forma geral, é um território social, política, cultural e
geograficamente delimitado.
- Lugar ou local, de forma geral, é uma porção do espaço qualquer ou um ponto
imaginário numa
coordenada espacial percebida e definida pelo homem através de seus sentidos.
- Nação é o termo que defini um grupo de indivíduos, ou comunidade humana, que
comunga das tradições culturais comuns (onde se inclui a etnia, língua,
religião, mentalidade predominante, educação.
- Estados-nação é tipo de organização política a que aspiram inúmeras
comunidades humanas, para se diferenciarem entre si, alcançarem segurança e
prosperidade e serem afores internacionais soberanos.
Seguindo o raciocínio de Diamantino Pereira pode-se dividir geograficamente a
"montagem" do espaço brasileiro em três momentos:
o espaço dos índios, o espaço colonial e o espaço brasileiro.
A Produção Da Cana-De-Açúcar (Séc. XVI-XVII)
Para montar engenhos, além das terras para o plantio, era necessário contar com
escravos, adquirir bois, cavalos, barcos, ferro e cobre etc. Em suma, o engenho
exigia muitos investimentos, sendo, portanto, uma atividade que não era para
qualquer um.
Os colonos que não podiam arcar com os gastos da preparação do açúcar
tornavam-se fornecedores de cana aos senhores de engenho. Assim, os senhores de
engenho trabalhavam com a cana de suas próprias plantações e com aquela
fornecida por colonos de menores posses.
Parte da fazenda era destinada a criação do gado necessário ao transporte da
cana dos partidos até a casa do engenho, e do açúcar até o porto de embarque.
Os carros de boi foram muito utilizados como meio de transporte, principalmente
quando não havia trechos navegáveis dos rios.
Completando a paisagem geográfica e social, havia a casa grande (moradia dos
senhores), a casa do engenho (conjunto de construções destinadas a fabricação
do açúcar) e a senzala (onde os escravos viviam amontoados).
Muitas fazendas, com seus engenhos, pomares e criação de gado, eram
praticamente auto-suficientes. A exploração do trabalho escravo permitia aos
senhores de engenho contratar homens com algum conhecimento técnico para
tarefas especializadas, como os mestres de açúcar, os purgadores e os
caldeireiros.
O objetivo da. produção açucareira era o mercado externo. Seu funcionamento
envolvia muita gente. Por isso, no interior da agricultura colonial-escravista
tínhamos dois setores:
• setor de exportação;
• o setor de produção de alimentos;
O setor exportador era a atividade principal, ocupava os melhores solos dos
imensos latifúndios, empregava o trabalho escravo e avançava sempre sobre as
terras férteis da floresta (plantation). A margem da atividade principal
aparecia o setor de subsistência. Assim, os escravos cuidavam de sua própria
alimentação diminuindo os gastos dos senhores com importação de gêneros
alimentícios.
A Economia Colônial No Século XvII
A produção de alimentos era subordinada a atividade principal do latifúndio e
variava de acordo com os preços do açúcar no mercado mundial. Quando os preços
do açúcar subiam no mercado, todas as terras e os escravos eram utilizados para
expandir a produção, sobrando pouca terra para a agricultura de subsistência.
A queda dos preços do açúcar implicava a redução das rendas, obrigando os
senhores a reduzirem as despesas com a manutenção dos escravos.
Quanto mais "doce" (de cana-de-açúcar) a paisagem, mais amarga era a
vida dos escravos.
A alta dos preços do açúcar era acompanhada da expansão dos canaviais, que
invadiam não só as áreas da mata, mas também as terras dos lavradores,
restringindo a produção de alimentos.
Quando os preços entravam em declínio, os latifundiários alugavam pedaços de
terra aos lavradores que podiam aumentar o cultivo para abastecimento de suas
famílias, dos próprios latifúndios, das vilas e das cidades próximas.
Como se vê, o poder dos senhores de engenho repousava, no fundo, nas imensas
terras que possuíam. A vida dos demais habitantes ficava à mercê dos interesses
desses grandes latifundiários e dos preços do açúcar no mercado mundial.
Na segunda metade do século XIX, com a diminuição da importação de escravos, a
Zona da Mata nordestina sofreu uma modernização nas suas técnicas com a
introdução das usinas no lugar dos engenhos e da ferrovia no lugar dos carros
de bois.
A organização do espaço geográfico modificou-se, pois aqueles que se
transformavam em usineiros aumentavam seu poder de influência por poderem
transformar mais cana que os antigos engenhos. Estes se transformaram em
fornecedores de cana das usinas, e muitos deles entraram em decadência. No
entanto, a grande usina sofria dos mesmos males dos antigos engenhos: a
oscilação dos preços do açúcar no mercado externo.
Além disso, o poder dos latifundiários da cana já não era o mesmo na segunda
metade do século XIX, pois o café se desenvolvia no Sudeste brasileiro, e o
Brasil se destacava como o mais importante produtor mundial. Sem falar que,
mesmo na região Nordeste, o século XIX verá o prestígio econômico e político
começar a deslocar-se da Zona da Mata para o sertão. Com o, algodão.
A Atividade Pecuarista: O Gado (Séc. XvI-XvII)
Nem só de açúcar vivia o Nordeste. A pecuária, desde o início, esteve vinculada
a lavoura canavieira. Nos engenhos nordestinos o gado era necessário para o
transporte da cana no interior das fazendas e à geração da força motriz nas
moendas de cana. Sem falar do consumo de sua carne e de seu couro.
Os donos de engenho costumavam destinar as áreas mais distantes a criação de
animais, evitando ocupar as terras das plantações. Criados soltos em parcelas
dos imensos latifúndios, os rebanhos se multiplicavam acompanhando às
necessidades da lavoura canavieira. Mas o gado exigia cada vez mais pastos e
começou a disputar terras com a lavoura canavieira. Ora, essa lavoura era a
atividade lucrativa mais importante da colônia no seu início, e a coroa
portuguesa não tardou a agir. Em 1701 a metrópole proibiu a prática da pecuária
no litoral nordestino. Entre a cana-de-açúcar e o gado, a preferência só podia
ser da primeira. Como se vê, decisões políticas acabam definindo o uso e a
organização do espaço geográfico (Geopolítica – Estratégicas).
Assim, o gado teve que pastar em outro lugar, indo ocupar as terras menos
úmidas e menos férteis do agreste e do sertão nordestino.
Interiorização Do Gado A Partir Do Nordeste A Expansão Da Pecuária
O agreste, com seu relevo suavemente ondulado, oferecia amplas extensões
facilmente aproveitáveis como pastos. A vegetação natural, por sua vez, não
exigia outro cuidado, além da queimada dos arbustos de maior porte, fornecendo
diferentes tipos de forragens para o gado. Nas manchas úmidas do agreste, os
chamados brejos, praticava-se uma agricultura de subsistência para o
abastecimento das fazendas. Assim, foi-se formando a paisagem do agreste. O
gado, no entanto, expandiu-se pelo sertão. A escassez de água é um problema
nesta área — daí as fazendas de gado terem-se estabelecido junto aos rios. Não
é a toa que o rio São Francisco era conhecido como rio dos Currais. A caatinga
(vegetação do nordeste) nem sempre garantia a subsistência dos rebanhos. O gado
resistia as difíceis condições do clima e da vegetação, tendo de ocupar grandes
extensões de terras para conseguir a alimentação necessária. O gado pastava
solto — as cercas eram raras — e vivia sob a vigilância dos vaqueiros.
Do rio São Francisco até o rio Parnaíba, a criação de gado foi ocupando as
chapadas cobertas pela caatinga.
As Frentes de Expansão Econômicas As “Drogas do Sertão” (século XVII e XVII)
No vale do rio Amazonas, as constantes incursões estrangeiras estimularam a
intervenção da coroa portuguesa, através da implantação de fortes a princípio
na embocadura do rio Amazonas (Belém/Macapá) e do incentivo à ação de missões
católicas, estas penetraram nos confins da região, viabilizando a exploração
dos produtos da floresta (“drogas do sertão” - canela , cravo, salsa-parrilha,
cacau nativo) e ao mesmo tempo domesticavam a mão-de-obra nativa, facilitando a
hegemonia lusa na região. Essa expansão foi possibilitada graças à União
Ibérica (1580/1640) que veio a facilitar a ação no interior da região sem
nenhum impedimento fronteiriço e, realizada a separação, fez-se necessária uma
nova divisão política em que se reconheceu o uti possidetis. Ao longo do curso
do Amazonas e partindo das fortificações de Belém, os portugueses lançaram
expedições oficiais destinadas a estabelecer a presença colonial por todo o
vale do grande rio. Entre as inúmeras expedições, destacam-se a bandeira
fluvial de Pedro Teixeira (1637/1639), marco das explorações amazônicas
oficiais e da epopéia do bandeirante Antônio Raposo Tavares (1648/1651).
No plano da construção espacial brasileira, as bandeiras ampliaram o limite do
território conhecido, e funcionavam, ao menos objetivamente, como vanguarda do
poder colonial. A coroa portuguesa, manobrando persistentemente e
meticulosamente para a expansão geográfica da sua soberania, ordenou a construção
de fortificações ao longo do perímetro exterior das expedições. Assim surgiram
os fortes de São Joaquim(RR), São José das Marabitanas (Alto Rio Negro), São
Gabriel(Rio Negro), Tabatinga (Rio Solimões) e Príncipe da Beira (Rio Guaporé),
balizando o contorno das nossas fronteiras terrestres.
A Amazônia no século XIX – A Economia da Borracha
Paralelo a expansão cafeeira, ocorria na Amazônia o boom da borracha (fim do
século XIX e início do XX). A produção de látex foi transformada num dos
elementos mais importantes do espaço amazônico. O seringal se constituía em
grandes propriedades no interior da floresta, controladas pelos seringalistas.
O responsável pela extração do látex era o seringueiro.
A borracha atraiu para a região amazônica muitos migrantes nordestinos (arigós)
que se transformaram na mão-de-obra. Estes trabalhavam através do Sistema de
Aviamento no interior dos seringais. Houve um deslocamento de nordestinos muito
intensa para o extremo oeste da Amazônia, garantindo com isso a posterior anexação
de mais um Estado ao território nacional, que foi o Acre, através do Tratado de
Petrópolis(1903).
Alguns migrantes nordestinos, entretanto, se estabeleceram nas proximidades de
Belém, onde deram início a uma importante agricultura praticadas em pequenas
propriedades familiares. A maioria das cidades existentes no nordeste paraense
(região bragantina – área que vai de Belém a Bragança) teve sua origem nas
colônias agrícolas implantadas por nordestinos. Em outras áreas da Amazônia
também foram implantadas colônias agrícolas semelhantes como foi o caso de
Santarém e Monte Alegre, ambas no Pará.
A Borracha mudou o Espaço
Ela passou a ser uma importante matéria-prima para as indústrias. O espaço
geográfico amazônico, em consequência, passou por grandes transformações, como
veremos a seguir.
O seringal foi transformado num dos elementos mais importantes do espaço da
produção regional(...)
O crescimento econômico e populacional atraiu também a indústria para a
Amazônia. Variadas fábricas, ligadas sobretudo ao setor de bens de consumo, se
estabeleceram nas principais cidades, destacadamente em Belém e Manaus.(...) as
atividades produtivas mais tradicionais: a roça, a coleta, a pesca e a caça não
deixaram de existir. Se a borracha e a indústria eram fonte de riqueza da
elite, as atividades tradicionais permaneceram, sobretudo, como fonte de
sobrevivência de uma grande parcela populacional.
O comércio gerado pela exportação da borracha intensificou a circulação de
pessoas e de produtos. Para facilitar o escoamento da produção e receber as
mercadorias compradas no estrangeiro, foram construídos os portos de Belém e
Manaus..
Neste período, até ferrovias foram implantadas para agilizar o escoamento da
produção regional: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré escoava a borracha de
Guajará-Mirim até Porto Velho, cidades localizadas no Estado de Rondônia; a
Estrada de Ferro Bragantina - escoava a produção agrícola na rota Bragança -
Belém, no Estado do Pará; a Estrada de Ferro do Tocantins -escoava a produção
extrativa, principalmente a castanha, existente no sudeste do Pará, até a
cidade de Marabá (PA).
À medida que novas áreas iam sendo ocupadas, como os vales dos rios Madeira,
Purus e Juruá, surgiam novos núcleos urbanos, que, na sua maioria, eram sedes
de seringais. É o caso de Xapuri e Brasiléia, ambas no Estado do Acre. Eram os
seringais virando cidades.
Nas grandes cidades da região, a elite, formada pelos barões da borracha, impõe
um novo modo de vida baseado em idéias trazidas da Europa. Vive-se a Belle
Époque, termo francês que se refere a um período marcado por construções
urbanas de grande beleza (palacetes, igrejas, praças e parques públicos,
bosques, etc.), assim como de espaços culturais (teatros, cinemas, escolas,
bibliotecas e arquivos públicos, jornais, etc.). As idéias européias se
tornaram presentes no espaço amazônico, para atender aos caprichos e gostos da
elite. Por isso mesmo, apenas uma pequena camada da sociedade amazônica pôde
beneficiar-se das inovações. (...) esse período de crescimento econômico e intensa
reorganização do espaço entra em crise devido à concorrência feita pela
borracha produzida na Ásia.
A crise freou o crescimento da maioria das cidades. Entretanto, algumas não
sofreram tanto com essa queda devido à existência de outras atividades econômicas,
como o plantio de juta nas várzeas do Médio-Amazonas e o extrativismo da
castanha-do-pará, no sudeste paraense.
O Brasil do Século XIX: A economia Cafeeira
O contexto em que ocorreu esta atividade foi a primeira metade do século XIX
até meados do século XX. Iniciando seu cultivo no Vale do Rio Paraíba do sul
(começando na porção do Rio de Janeiro) e depois expandindo-se para o oeste
Paulista chegando até o norte do Paraná e sul de Minas Gerais (frentes
pioneiras), aproveitando-se condições naturais favoráveis, como: a descoberta
de terrenos menos acidentados e o solo de terra roxa.
A economia cafeeira foi obra do capital mercantil nacional que vinha se
desenvolvendo aos poucos e ganhou notável impulso com a abertura dos portos, e
a transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808) e, mais tarde, com a
independência.
Houve neste momento a grande participação do capital britânico, que financiou a
infra-estrutura para o abastecimento do café, através de empréstimos
financeiros, visando incorporar o Brasil como grande mercado consumidor e fonte
de matérias-primas para a economia inglesa.
A migração em massa (principalmente de italianos) foi a solução encontrada pela
burguesia cafeeira para o grave problema da mão-de-obra. Depois da proibição do
tráfico negreiro, a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenário (1885)
sinalizavam a definitiva abolição da escravatura, o que ocorreu em 1888. Os
cafeicultores tiveram um longo tempo para organizar a substituição da força de
trabalho. Além do que em 1850 foi instituída a Lei de Terras, que acabou com o
sistema de simples doação e estabelecendo que a propriedade territorial só
poderia ser adquirida mediante procedimento de compra e venda. A terra, de
simples recurso natural passou a ser mercadoria. Na verdade, a Lei de terras
marca a transição de um regime em que os homens eram cativos para um regime em
que os homens são livres, mas a terra é cativa.
A economia cafeeira modificou o espaço geográfico da região (principalmente de
São Paulo), ou seja, houve grandes transformações no espaço da produção, da
circulação e das idéias regionais, havendo, assim, as condições para a
transição de uma economia agro-exportadora para uma economia urbanoindustrial.
Até a primeira metade do séc. XIX, a economia cafeeira ainda conservava as
características básicas do período colonial (economia agroexportadora, baseada
na monocultura latifundiária, apoiada na mão-de-obra escrava). Na segunda
metade do século XIX, sobretudo a partir de 1860- 1870, a cafeicultura passou
por profundas transformações, tais como: substituição da mão-de-obra escrava
pela mão-de-obra assalariada do imigrante, a ocupação de novas áreas (oeste
paulista) e a expansão das ferrovias ligando a produção aos portos
exportadores. A Lei Eusébio de Queiroz pôs fim ao tráfico de negros. A partir
desse fato, a escravidão oficial caminhava para o seu esgotamento e os
desdobramentos gerados no rumo de uma economia capitalista. Devido as
crescentes exportações do café, a expansão de fazendas transformara o Vale do Paraíba
do Sul. Os cafezais causaram rápido esgotamento dos solos. Daí a rápida
incorporação das terras do Oeste Paulista. A produção cafeeira seguiu uma
trajetória de sucessivas e crescentes safras.
Já no final do séc. XIX o Brasil passou a conhecer crises de superprodução de
café. Em 1882, a produção mundial de café foi maior do que o consumo. O
resultado foi à queda do preço do produto no mercado mundial.
As ferrovias do café e seu papel na ocupação, na produção e na organização do
espaço geográfico
A maior parte das ferrovias no estado de São Paulo foi construída somente após
o avanço do desmatamento e do estabelecimento das fazendas, quando a população
dos povoados se tornou numerosa e o volume da produção compensava o
investimento no transporte ferroviário. Nos EUA e no Canadá , ao contrário, as
linhas férreas foram fatores básicos para a fundação de cidades e seu
povoamento.
Não podemos, entretanto, subestimar o papel das ferrovias do café. Muitas
cidades do Planalto Ocidental Paulista tiveram como embrião as estações de
trens, as pontas de trilhos e, ainda, as paradas ao longo do trajeto: Bauru,
Tupã, Votuporanga, Pompéia, São Jose do Rio Preto, Penápolis, Lucélia, Lins,
Adamantina e Araçatuba.
Para os habitantes do Estado de São Paulo, as vias férreas assumiram tamanha
importância que se tornaram um referencial para se situar ou se deslocar no
espaço paulista. Por exemplo, quem ia para acidade de Tupã, no oeste do estado,
servida pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro dizia “Eu vou para a Alta
Paulista “, referindo-se, desse modo , mais especificamente ao final da linha,
pois esta dividia-se em Baixa, Média e Alta Paulista.
Isso ocorria também em relação ao espaço geográfico cortado pelas demais
ferrovias. Falava-se em Araraquarense, Mojiana, Sorocabana, para referir-se à
região “atravessada” por essas ferrovias. A paisagem ou o relevo nunca foram
referenciais do espaço para os paulistas, como ocorre, por exemplo, com os
gaúchos e nordestinos.
Hoje, no Estado de São Paulo, não há mais nem mesmo o referencial dado pelas
ferrovias, a não ser para gerações passadas. Com o desenvolvimento rodoviário
iniciado em 1956, as ferrovias perderam a importância e também o papel de
estimuladoras do povoamento e da criação de cidades, bem como de referenciais do
espaço.
O traçado das ferrovias do café mostra a ligação das áreas produtoras ao porto
de Santos, construídas que foram para escoar a produção cafeeira do Vale do
Paraíba, da Depressão Periférica Paulista e do Planalto Ocidental Paulista. A
primeira delas, a Sociedade de Estradas de Ferro D. Pedro II que mais tarde deu
origem à Estrada de Ferro Central do Brasil), ligando o Vale do Paraíba ao
porto do Rio de Janeiro, entrou em operação em 1855. Em seguida, em 1867,
entrou em operação a São PauloRailway Co Ltd, ligando São Paulo à Santos, cujos
trilhos foram depois estendidos até a cidade de Jundiaí, dando origem à Estrada
de Ferro Santos----Jundiaí . Em 1872, foi inaugurada a Companhia Paulista de
Estrada de Ferro, fruto da união de capitais de grandes fazendeiros de
Campinas, Araras, Limeira e Rio Claro. Uma associação de produtores da região
de Moji-Mirim fez o mesmo, dando origem a Companhia Mogiana em 1875, mesmo ano
da inauguração da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1901 foi a vez da Araraquense
.
Em 1971, o governo do Estado de São Pulo organizou a Fepasa--- Ferrovia
Paulista S.A. ----que englobou as ferrovias citadas, com exceção da
Santos---Jundiaí e da Estrada de Ferro Central do Brasil, que pertencem a RFFSA
– Rede Ferroviária Federal S.A. Embora tenham avançado no interior do Estado de
São Paulo, essas ferrovias não penetraram mais fundo no território nacional
(com exceção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, inaugurada em 1905, que
liga Bauru a Corumbá, no Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia ). O mesmo
ocorreu nas demais regiões do Brasil.
Ao analisarmos o traçado das ferrovias no Brasil podemos concluir que:-as
ferrovias não realizaram efetivamente as integrações nacional e inter-regional,
como ocorreu, por exemplo, nos EUA, no Canadá e na Rússia ;
-- no nordeste brasileiro, elas não realizaram nem mesmo a integração
intra-regional;
--na Amazônia a densidade ferroviária é bastante baixa, contando com a Estrada
de Ferro do Amapá, que escoa o minério de manganês até o porto de Santana, de onde
é exportado, e com a Estrada de Ferro Carajás, construída recentemente para
escoar o minério de ferro da Serra dos Carajás até o porto de Itaqui, no
Maranhão, de onde também é exportado;
-- particularmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, as ferrovias constituíram
uma infra-estrutura importante para assegurar o desenvolvimento do capitalismo
no Brasil. Podemos, então, afirmar que o traçado das ferrovias no Brasil é
periférico, portanto não integrador do espaço. Sua função foi a de inserir-nos
na economia mundial como país de economia primário-exportadora, no contexto da
divisão internacional do trabalho.
Sobre os interesses subjacentes ao desenvolvimento da malha ferroviária no
Estado de São Paulo, lembramos as palavras do geógrafo francês Pierre Monbeig:
No norte do Paraná, após a implantação de ramais ferroviários, a partir do
início da década de 20, para escoar a produção de café, ocorreu a revitalização
de povoados e a fundação de muitas cidades: Cornélio Procópio (1924), Londrina
(1929), Arapongas (1938), Maringá(1947) e muitas outras.
O Arquipélago Econômico (isolamento regional)
A configuração em arquipélago econômico (ilhas econômicas) refletia o papel do
Brasil como produtor de mercadorias para o mercado mundial e como as atividades
produtivas nesse longo período foram ocupando espacialmente várias áreas do
território. As culturas como açúcar, fumo, cacau, borracha ou café;
desenvolveu-se em áreas diferentes de acordo as vantagens comparativas naturais
e históricas de cada porção do espaço brasileiro. Esse arquipélago mercantil
configura-se como “bacias de drenagens” integradas ao centro em grandes cidades
portuárias, que escoavam a produção ao mercado externo. Essa organização do
território produziu as grandes cidades portuárias do Brasil rural-agrário,
centros modernos com laços intensos aos centros urbanos europeus. Pode-se citar
as cidades: Belém, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, São Luís, etc.
As relações econômicas ou demográficas entre essas áreas ou as ilhas eram
inexpressivas ou precárias, chegando em vários períodos há serem inexistentes,
pois o crescimento e dinamismo econômico eram diretamente resultado do comércio
voltado ao mercado mundial.
O fim da economia de arquipélago
A relação assalariada de trabalho deu o início a um considerável mercado
interno de consumo que consequentemente, gerou as bases para um maior
crescimento industrial no final do século XIX; abrindo dessa forma a
possibilidade de circuitos inter-regionais de mercadorias, pois as necessidades
dos trabalhadores, de alimentos, tecidos e calçados, passaram a ser
parcialmente atendidas pela indústria nascente. Ao poucos foi se intensificando
a articulação entre as
regiões, acabando, dessa forma, reduzindo o isolamento anterior.
A industrialização e o novo espaço geográfico
O desenvolvimento industrial da região do sudeste, principalmente do Estado de
São Paulo, se beneficiou de capitais, infra-estrutura de transporte energia, da
mão-de-obra, da urbanização e do mercado consumidor criado pela economia
cafeeira.
A concentração industrial nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro transformou
a região sudeste no principal pólo econômico do país. A indústria, centro
dinâmico da economia brasileira a partir da década de 30, criou um novo espaço
geográfico, que em poucas décadas passou a concentrar a maior parcela da
população e da produção do país: o espaço urbano-industrial.
A firme disposição do governo federal em estimular a industrialização do país e
a expansão rodoviária desempenhou importante papel no processo de integração
nacional, que se afirmou em definitivo a partir da década de 50 com a
construção de Brasília.
A necessidade de ligar a nova capital ao restante do país possibilitou a
complementação de várias rodovias e a incorporação de novas áreas no cenário
nacional (Centro-Oeste e Amazônia).
A crescente integração da economia do Sudeste as demais regiões do país teve
conseqüências muitas profundas;
de um lado criou um mercado interno nacional e integrou economicamente o país,
de outro lado, limitou e até subordinou o desenvolvimento industrial das outras
regiões, transformando-as em fornecedoras de alimentos, matérias-primas e
mão-de-obra.
A indústria integrou o território nacional, porem causou também profundas desigualdades
sociais e regionais.